quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Graciliano Ramos - Escreveu, Sofreu e Venceu

Um escritor que nunca fez questão em vir a sê-lo, vocês acreditam? Não? Pois no caso de Graciliano foi justamente isso que aconteceu. Ele era atípico no ofício de escrever, não se isolava do mundo real, ao contrário, queria e conseguiu retratá-lo tal qual ele era, obscuro e cruel.

Na sua loja de tecidos em Palmeira dos Índios (Alagoas), a figura de um homem cordial e amável sobressaía por detrás do balcão. Senhoras e moças da cidade, suas freguesas,assim como a minha mãe, iam até lá para escolherem seus crepes, sedas, linhos, chita ou algodão. Ele servia a todas com presteza, mas poucas palavras,acredito que, inconscientemente, as guardaria para suas obras-primas como Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere.
O que fervilhava na imaginação daquele homem tão sóbrio para que, na sua maturidade, próximo aos quarenta anos, se tornasse um dos mais importantes prosadores do Brasil ao lado de Machado de Assis e Guimarães Rosa? Nesse mistério, jamais penetraremos.
A situação toda parece ter acontecido meio por acidente do destino. Um tanto contrariado, mais para atender os apelos dos amigos e dos moradores da cidade, deixa-se lançar na política e não deu outra, ganhou a prefeitura.
Não só ganhou a prefeitura de Palmeira dos Índios como realizou a melhor administração de todos os tempos. Seus pareceres eram tidos como peças raras literárias e a notícia correu nordeste afora. Depois, foi chamado para ocupar dois cargos públicos em Maceió, diretor da Imprensa Oficial e também da Instrução Pública. A essa altura, Augusto Frederico Schmidt o estimulava a publicar seu primeiro livro, Caetés. Daí, não parou mais, virou celebridade, mas o homem tranquilo e consciente, nascido em Quebrangulo (lugarejo nos arredores de Palmeira dos Índios), não deixou a fama subir-lhe à cabeça.

Vidas Secas, seu livro mais conhecido, não tinha muitas páginas, era fino, de leitura rápida e direta, sem complicações léxicas, sem apelações para o sentimentalismo fácil. Graciliano não tolerava jogos de palavras e cada palavra que usava só lhe servia para deixar que a realidade se apresentasse tal e qual nasceu, nua e crua, das páginas de suas obras. A seca do nordeste era seca mesmo e o sofrimento atroz dos nordestinos era um sofrer real, sem maquiagens, sem palavrórios inúteis. Isso explica porque dispensava a poesia e nunca se ocupara em escrever uma sequer. Se, por acaso, surgir alguém que diga que achou um só poema de Graciliano, ou enganou-se ou age de má fé, pois ele declarava publicamente que não gostava de poesia. Fazer o que? Pelo menos, ele sempre foi firme e franco nos seus gostos e decisões.
Mudou-se para o Rio de Janeiro, bairro de Laranjeiras, onde exerceu o jornalismo e cercou-se ali, em reuniões no seu apartamento, das melhores cabeças da época, de Manuel Bandeira, José Lins do Rego a Carlos Drummond de Andrade. Que época de ouro, hein?
Mas o que era doce acabou-se com a ditadura de Getúlio Vargas e a tirania que nunca rimou com liberdade de pensamento o arrastou preso e humilhado em um navio infecto para a Ilha Grande, presídio sinistro, onde seria torturado e, pior que tudo, sem uma única acusação formal. Ele não era militante político de esquerda à época.

O seu defensor foi outro homem e jurista de enorme respeitabilidade, Sobral Pinto. Quero abrir um parênteses aqui para declarar que tive a honra de cumprimentá-lo quando fazia o meu curso de Direito. Ele estava já com cem anos, sua cabecinha parecia feita de flocos de algodão, mas palestrou com a lucidez de um bacharel de vinte anos. Ainda se fazem homens e profissonais assim? Talvez sim...talvez não.
Sabem qual a Lei que o mineiro ilustre da cidade de Barbacena - a cidade das rosas - aplicou para retirar Graciliano das garras da morte? A LEI DE DEFESA AOS ANIMAIS e o argumento foi claro, simples, mas incisivo:"- Se devemos, por Lei, proteger e respeitarmos os animais por que não o fazemos com os nossos semelhantes?" Assim, o nosso escritor ganhou a sua Liberdade. Saudade de ti, Sobral Pinto!
Memórias do Cárcere (virou filme com Carlos Vereza no papel principal) veio a público e Graciliano contou tudo, com aquele seu estilo exato, meio existencialista e psicológico, sem rodeios.

Contista de primeira, Graciliano nos impressiona com os seus relatos quase auto-biográficos, inclusive quando estava moribundo, no hospital, morrendo de câncer no pulmão de tanto fumar e, provavelmente, com sequelas sofridas na prisão. Em um desses contos ele fala das paredes brancas do quarto e da solidão de morrer só.
O cineasta Nélson Pereira dos Santos filmou com primor um dos dez melhores filmes do mundo, Vidas Secas, película que se insere ao lado de Cidadão Kane de Orson Welles.

E assim, vocês que chegaram até aqui comigo, podem já ter notado que, mais uma vez, o destino pregou-me uma grata surpresa: minha mãe recebeu seus vestidos das mãos de um dos maiores escritores do mundo e eu apertei a mão do melhor e mais generoso jurista de todos os tempos e um ciclo se fechou. Fui uma privilegiada e não sabia.
Graciliano Ramos, estóico e íntegro, gente de verdade, tu foste um ser iluminado e muito especial! Venceste!
Vamos falar um pouquinho do músico Hermeto Paschoal?
Multi-instrumentista, nascido em Arapiraca (alagoano também, esse danado), Hermeto retira sons até da natureza, desde canudos de mamona a uma poça d'água. Mestre em acordeon, flauta, piano, saxofone, trompete, bombardina, escaleta, violão e a lista não tem fim, minha gente.
Convidado a visitar os Estados Unidos, encontrou-se com Miles Davis e ambos trocaram experiências jazzísticas.
Apresentou-se com sucesso por quase toda a Europa, principalmente na Dinamarca, Alemanha e Suiça. É tido pelos especialistas musicais como "romanceador da música" e abriu as portas para a criação da Música Universal.
Ouviremos aqui a música"São Jorge" que nos apresenta o ritmo do galope de um cavalo chamado Faísca. Papa fina, gente! É mais que nordeste, mais que Brasil, Hermeto é um patrimônio vivo do nosso planeta.
Dá-lhe, Hermeto!
Volto ano que vem, se Deus quiser! Muita coisa pra fazer na vida real...
Boas Festas, amigos! Um glorioso 2011 a todos!
Obs: Retornarei a todos os comentários.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ai, ai, que bom!

Quando li pela primeira vez Chuva de Caju de Joaquim Cardozo(1897/1978), fiquei tomada de muito prazer. Era aquilo mesmo que eu vira e sentira acontecer no nordeste brasileiro. A suavidade e a poesia telúrica estavam ali presentes nas imagens construídas por Joaquim que, apesar das dificuldades por que passam os sertanejos, ainda assim, ele trouxe-nos calores, sabores e aromas daquele chão crestado pelo sol. - Ei, dona Maria e dona Tereza, o que me trazem aí nesses cestos?
- É caju, meu fio, vai querê? Responderam ambas ao mesmo tempo.
Quem vê e vive cenas assim, jamais vai querer esquecê-las e, se possível, vai passá-las adiante.

Roçados de doces melancias, muricis com odor azedo e forte, umbus com gosto de mel e muitos cajueiros chovendo suas carnes suculentas a descer por nossas gargantas secas. Sucos e lambuzos de frutas e poesia que o Mestre pernambucano traduziu para nós. Até chinês ele lia no original, querem mais do que isso? Para mim é o suficiente se até no Português eu me engasgo.

Joaquim Cardozo não se contentou em ser Mestre na Poesia e sua estrada foi mais longa.
Ele tornou-se um dos maiores engenheiros calculistas do mundo e junto aos cérebros privilegiados de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa saiu construindo Brasília, Pampulha e muita arquitetura boa por esse Brasil afora.
Tímido ao extremo, manteve-se afastado das badalações literárias, mas suas Obras - no papel e no cimento - ultrapassaram fronteiras e se eternizaram feito as pirâmides do Egito.

Chuva de Caju

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Tereza, Maria?
Entre, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros.
E em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quem te chamas, Tereza ou Maria?

Musicalmente, já que trouxe aqui o filho, Gonzaguinha, solicito agora, a gentileza ao pai, Gonzagão, para que se apresente e faça Elba Ramalho, essa menina arretada, cantar com voz de pastorinha a Estrada de Canindé. Venha, Elba, cante bonito pra gente!
Ouçam bem essa preciosidade que vai continuar na próxima postagem quando, se Deus quiser, pedirei a Graciliano Ramos que fale de Vidas Secas para quem quiser ouvi-lo. Mas me digam, meus compadres, quem aí sabe que o galo campina quando canta muda de cor? E essa gente andando a pé, vai oiando coisa a grané, coisas que pra mode vê, o cristão tem que andá a pé...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os Segredos de Adriana

Já eram muito comuns as visitas aos finais da tarde que dona Adriana fazia à nossa casa, mais precisamente, à nossa mãe.
Bem, não sei se eram propriamente desabafos ou pedidos de conselhos, poderia ser que não se tratasse de nem uma coisa nem outra. Quem entende a alma humana?
Crianças fora da sala, mas devidamante escondidas atrás dos sofás e cortinas, se esforçavam por ver e ouvir aquelas cúmplices em diálogos entrecortados de suspiros e lágrimas. Um caudal, um oceano de água, sal e muita dor.

Dona Adriana era um modelo de mulher: discrição, elegância, suavidade, mas também sofisticada nos seus modos e expressões. Gostaríamos até de compará-la com alguma artista de cinema, mas nenhuma delas lhes faziam juz de tanto que a admirávamos. Perfeita em tudo, mas essa mesma perfeição não ia lá muito longe, pois seu complicado casamento lhe sufocava a tal ponto que, a julgar por aquelas cenas, nós a considerávamos a pessoa mais infeliz desse mundo.
Uma indagação repetitiva e angustiada sempre lhe saía dos lábios vermelhos de serem esfregados pelo lencinho bordado à mão:
- Eu mereço isso? Eu mereço isso? Eu...
Nesse exato momento, parecia-nos que tudo se entristecia naquela sala caprichosamente tão arrumada e até as flores no vaso da mesinha de centro, encerada com óleo de peroba, se quedavam e começavam a murchar. Um refresco de maracujá, alguns biscoitinhos amanteigados sempre amenizavam o clima tempestuoso e tenso.
Frases soltas daqui e dali e surgiu o nome do vilão, o marido, só podia ser, o Juvenal.
Maldito sejas, Juvenal! Se soubesses o quanto foste odiado por nós e caso não fôssemos tão crianças iríamos aos confins da terra para esbofeteá-lo e até, sei lá, matá-lo aos pouquinhos com alguns requintes das temíveis crueldades infantis.
- Paciência, minha amiga! Contemporizava minha mãe.
E Juvenal escapou ileso. Eles sempre escapam!

Gonzaguinha, sai um pouco dessa boa vida aí no céu e vem cantar para nós aquela música que arrebenta com o machismo! É o Ponto de Interrogação. Vamos ouvi-la com atenção, minha gente, pois a história costuma sempre se repetir, infelizmente.

Por acaso algum dia você se importou

Em saber se ela tinha vontade ou não

E se tinha e transou,você tem a certeza

De que foi uma coisa maior para dois

Você leu em seu rosto o gosto,o fogo,o gozo da festa

E deixou que ela visse em você

Toda a dor do infinito prazer

E se ela deseja e você não deseja

Você nega,alega cansaço ou vira de lado

Ou se deixa levar na rotina

Tal qual um menino tão só no antigo banheiro

Folheando revistas,comendo as figuras

As cores das fotos te dando a completa emoção

São perguntas tão tolas de uma pessoa

Não ligue,não ouça são pontos de interrogação

E depois desses anos no escuro do quarto

Quem te diz que não é só o vicio da obrigação

Pois com a outra você faz de tudo

Lembrando daquela tão santa

Que é dona do teu coração

Eu preciso é ter consciência

Do que eu represento nesse exato momento

No exato instante na cama,na lama,na grama

Em que eu tenho uma vida inteira nas mãos...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vargas Llhosa - E a Academia Sueca rendeu-se ao seu talento


Jorge Mario Vargas Llosa tinha quase tudo para não dar certo. Quase, eu disse. Nasceu em Arequipa, no Peru, em 1936 e, após poucos meses de casados, seus pais separaram-se. Hoje em dia, dir-se-ia que foi uma criança traumatizada, mas há traumas que também nos impulsionam para o campo de batalha da vida e nos tornam também vencedores de nós mesmos. Aconteceu com Llosa e aqui, sem fazer alarde, vamos pinçar detalhes da vida e obra desse grande Mestre.
Embora alguns lhes lancem farpas (sempre o fazem aos que lutam), ele foi um crítico ferrenho às castas sociais e raciais que dominam ainda hoje o seu país. A realidade peruana é cruel e opressiva, porém Vargas Llosa jamais deu-se por vencido e sua bagagem cultural ampliou-se a ponto de se tornar imensa, única e incontestável.
Em A Guerra do Fim do Mundo, tendo a batalha de Canudos como tema central, sendo dedicado o livro ao nosso Euclides da Cunha ("Os Sertões"), ele agigantou-se e recolheu dados significativos(deslocou-se pessoalmente para o nordeste) sobre o genocídio praticado pela recente República Brasileira que devastou uma comunidade de pobres nordestinos no sertão baiano liderados e organizados por Antonio Conselheiro. Bem, recomendo a quem se interessar que faça uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema que é muito pouco divulgado em nosso próprio país. Por que será?

Outro best-seller que marcou época foi o romance Pantaleão e as Visitadoras que, embora seja tido como "engraçado" não deixa de ser uma fisgada de ironia sobre as forças armadas peruanas que contratam um oficial para recrutar prostitutas com a finalidade de "aliviar as tensões" dos seus soldados. Virou filme que não deve deixar de ser visto pelos cinéfilos.

Ainda como curiosidade, poderíamos acrescentar que, mais recentemente, sua sobrinha, Claudia Llosa , escritora e premiada diretora de cinema, realizou um filme que pode-se dizer ser um grito de repúdio ao estupro e à crueldade silenciosa com que tratam as mulheres peruanas e latino-americanas em geral.
Por tudo isso e por muito mais, ofereço aqui, com carinho e profundo respeito, essas simples linhas ao escritor que, graças a Deus, está entre nós para prosseguir no seu trabalho incansável de sacudir a poeira da nossa Latino América. Se a famosa Academia Sueca de Ciências rendeu-se ao teu talento, Vargas Llosa, por que não nós e todos os que clamam por um mundo mais justo?
Musicalmente, escolhi El Condor Pasa com a inesquecível dupla Simon e Garfunkel. Essa canção faz parte do folclore mais antigo dos Andes Peruanos. Maravilhosa! Vamos ouvi-la?
"Eu prefiro ser um pardal que uma lesma/Sim, eu preferia/Se eu pudesse/Certamente iria preferir/Eu prefiro ser um martelo do que um prego/Sim, eu preferia/Apenas se eu pudesse/Certamente iria preferir/Longe, eu preferiria velejar longe/Como um cisne que está aqui e se foi/Um homem envelhece a cada dia/Isto dá ao mundo/Seu som mais triste/Eu prefiro ser uma floresta que uma rua/Sim, eu preferia/Se eu pudesse/Certamente iria preferir/Eu prefiro sentir a terra debaixo dos pés/Sim, eu preferia/Apenas se eu pudesse/Certamente iria preferir..."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Crianças, Barquinhos e Tsurus

Quem aí não se lembra daquele primeiro barquinho de papel feito no jardim da infância? De uma simples folha de papel de caderno surgia o nosso próprio barco que singrava em banheiras ou poças d'água da chuva. Esses eram os nossos "oceanos". Esse foi meu primeiro origami que, devagar, lentamente, acabou virando um Pássaro Sagrado, o Tsuru japonês que pode se transformar no Uirapuru e até num Bem-te-Vi que canta na sua janela, bem cedinho.
O Tsuru é o símbolo japonês da felicidade, longevidade e só coisas boas. Coisas em que teimamos em acreditar para podermos sobreviver ao caos das tempestades nos oceanos encapelados da vida. E vamos sobreviver! Seja otimista, o que te custa?

Um pássaro de papel que na arte do origami serve de base perfeita para tudo que se queira projetar. E quem fizer 1000 Tsurus consegue realizar o desejo mais difícil, aquele mais bem guardado no fundinho do coração.
Vamos ver quem termina primeiro? Mas eu sou preguiçosa, vou tentar!
João Donato, maravilhoso pianista e compositor, criou "Gaiolas Abertas" que parece que foi feita para todos os pássaros e seres que se sentem presos e engaiolados. Aprisionados até em si mesmos, o que é a pior das prisões. E como ainda não saímos do Japão, aqui estão Noriko Yamamoto e Matsumonica para nos agraciarem com uma interpretação pra lá de sensível e com direito a sotaque nipônico-brasileiro, muito legal, afinadíssimas. A gente podia até cantar juntos, vamos nessa? Solte a sua criança, deixe-a livre, voando.

" Voa / Voa passarinho / Voa / A gaiola está aberta / Nada aqui te prende mais..."
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Em tempo, essa eu aprendi também com a Déia! Querem saber mais? Ela tá aqui bem pertinho da gente:
Vai lá, pergunta a ela como é que faz!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Eiji Okada Mon Amour

Devo confessar-lhes que o meu primeiro grande amor juvenil era nipônico. Na verdade, quando assisti Eiji Okada (1920/1995) em Hiroshima Mon Amour, percebi que ele era um homem diferente e nas pesquisas para esse post ficou-me constatado que Eiji desfez o estereótipo tradicional do samurai assustador e feroz. Eiji Okada só fazia papéis sensíveis, bem elaborados e até cômicos.
Por algum motivo, após o estrondoso sucesso de Hiroshima Mon Amour, dirigido por Alain Resnais e com o roteiro da escritora Maguerite Duras (O Amante), esse excelente ator não seguiu para Hollywood (fez duas pequenas participações) e preferiu montar sua própria companhia de teatro ao lado da esposa, Aiko Wasa. Porém, sua filmografia no cinema japonês, embora considerável, é pouco conhecida do público ocidental.
A origem de Eiji Okada é pouco divulgada e incompleta. Ele nasceu em Chiba (lugar de turismo marítimo no Japão); entrou para o exército japonês e chegou até a trabalhar em minas de carvão. Pode-se deduzir por aí que era homem oriundo de família de poucas posses, mas estudou na Universidade de Keio. As informações biográficas são dificílimas de serem obtidas e paro por aqui. Quem souber mais, por favor, nos informe.
Além, muito além de deixar aqui registrada a minha imensa admiração por Eiji Okada, gostaria de falar um pouquinho do que entendo sobre o Japão como nação e povo.
No Japão existe um equilíbrio total entre tradição e modernidade, sem contradições. Como eles conseguem isso? Não sei, mas tenho um palpite: educação e respeito no mais alto nível.
Os japoneses têm uma relação tão estreita com a Música Brasileira que detêm o maior acervo do mundo das nossas obras musicais. Fazem desfiles de escolas de samba no carnaval e curtem muito os nossos artistas em suas turnês por lá.
Não deve ser surpresa para muitos que as artes plásticas japonesas influenciaram diretamante o Impressionismo Francês. Aquela luz e o pontilhismo não são frutos exclusivos da imaginação dos impressionistas, embora isso não lhes tire o mérito, os artistas japoneses já eram Mestres desde muitas e muitas eras.
Os miniaturistas japoneses são famosos por suas paisagens em cabeças de alfinetes. A arte do Ikebana é praticada até nos treinamentos dos policiais japoneses. O que dizer também do trem bala e do avanço da robótica? Eles dominam a papa fina da tecnologia no mundo. Falaria também da arquitetura planejadíssima para diminuir os fortes impactos dos terremotos. Gastronomia requintada só se tem no Japão e fim de papo. Aceita um sushi? Citar o Mestre Kurosawa que está no topo dos maiores diretores de cinema do mundo também vale a pena, mas precisaria mesmo de uns dez posts para nos aproximarmos da cultura japonesa e isso só na próxima encarnação. Falando nisso, mencionemos o culto aos antepassados e o respeitoso tratamento à memória dos que partiram.
Vamos ao nosso momento musical?
Kyo Sakamoto, em 1963, nos legou o Hino de Amor ao Japão em "Sukiyaki". Composição de Ei/ Nakamura que com esse título foi lançada porque nenhuma língua ocidental foi capaz de traduzi-la como deveria, essa canção incrível está entre as cem músicas mais românticas e mais cantadas em todo o mundo. A tradução que aqui coloco é aproximada. Por isso, chamo ao palco a nossa Embaixatriz do Japão no Brasil, ANDRÉIA ARAKAKI: linda, delicada, discreta e muito inteligente. Pois é, misturou o sangue brasileiro e o japonês e ela aqui está, felizmente, entre nós e nos prestando uma assessoria completa. Explica tudo pra nós aí, Déia! [risos]. Brasileiro é muito enrolado nessas coisas...mas a gente se esforça!
LETRA APROXIMADA DE SUKIYAKI - No Brasil, foi interpretada pelo Trio Esperança e Daniela Mercury.
"É tudo por sua causa/ Que estou me sentindo triste e deprimido/ Você foi embora/Você foi embora/ Agora minha vida é apenas um dia chuvoso/ Eu te amo tanto/ Um tanto que você nunca vai saber/ Você foi embora e deixou-me solitário/ Memórias intocáveis/ Parecem combinar e querem me caçar/ Amor tão verdadeiro que tornou o azul do meu céu em cinzas/ Mas você desapareceu/ Agora meus olhos estão cheios de lágrimas/ Eu queria tanto que você estivesse aqui comigo/ Cheios de amor os meus pensamentos em você/ Agora que você se foi eu não sei o que fazer/ Se somente você estivesse aqui/ Você limparia minhas lágrimas/ O sol brilharia/ Novamente, você seria minha, toda minha/ Mas na realidade seu amor nunca terei/ Pois você levou seu amor para longe de mim...Sayonara!"
Post dedicado à Colônia Japonesa no Brasil que, com a sua honradez e trabalho silencioso, fizeram e fazem nosso país melhor e mais civilizado.
Beijos Carinhosos ao Povo do País do Sol Nascente e seus Descendentes no Brasil!
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" Vem comigo pro matagal!" é um blog novinho que estou começando agora. Nada de pretensioso. Tudo verde, tudo simples como deveria ser a vida. Está na relação dos nossos três blogs. Aguardamos sua visita.Vem!
O desenho acima só poderia ser presente da Déia! Valeu, amiga!!!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Feira Moderna e Maldita

E já era profético nos anos 70. Tava lá, Beto Guedes no Clube da Esquina, falando das coisas materialistas e ácidas acontecendo adoidado e que já nos rondam e invadem nossas tristes vidas.
" Tua cor é o que eles olham, velha chaga
Teu sorriso é o que eles temem, medo, medo
Feira moderna, o convite sensual
Oh! telefonista,se a palavra já morreu
Meu coração é novo
Meu coração é novo
E eu nem li o jornal
Nessa caverna, o convite é sempre igual
Oh! telefonista se a distância já morreu
Independência ou morte
Descansa em berço forte
A paz na terra, amém!"

O admirável futuro novo dessa internet vulgar que não te serve para nada e que te cerca na caverna em que morres de medo do medo. Um jogo de esconde-esconde onde todos são bandidos e os mocinhos viram estátuas de sal. Intrigas se multipicando e por que ainda aqui estou? Talvez a minha simples presença faça alguma diferença, como a sua, como a de meia dúzia de Dons Quixotes. Talvez.
E essa ilha da fantasia desvairada onde tudo é novo, onde o sexo é fácil com inundações de mulheres loiras, ruivas, morenas, todas belas e siliconadas se entregando a homens sem alma, é assim que tem que ser? Tão tudo aqui, tudo ao alcance e ao não-alcance da mão, da visão. Da nossa eterna cegueira de internautas que nos julgamos espertos, bons, matreiros, mas que não passamos de uns atoleimados.
O materialismo nosso de cada dia está nos mouses dos PCs disparando falsidades, mentiras, maldades, e as guerras dos hackers metralhando nossas máquinas, enviando-nos e-mails bloqueados e falcatruas digitais o quanto as tiverem. Não entenderam o recado? Pois que fiquem na omissão em que vivem e, por favor, não me encham o saco. Sacos de laranjas podres, gente ruim e obscura. Não sou eu que vou me aborrecer por isso.
Recantinhos sórdidos vão proliferando e vamos levando e cantando...
Betinho Guedes, tímido, mineiro bão que com Lô Borges e Fernando Brant irritaram e irritam o mau-caratismo nacional com a sua crueza proposital. Pois que continuemos a jogar o cacete da verdade nas caras dos que ousarem falar, da boca pra fora, de amor e poesia mas que escondem em seus corações odores fétidos do mal que rescendem a ódio e vingança.
Feira Moderna e Maldita! Viveremos para celebrarmos o retorno da Ética e do verdadeiro Amor numa Feira Livre e cheia de Esperanças!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um filme muito especial...

AS COISAS MUDAM
Na linguagem dos cinéfilos diz-se "filme cult" àquele que não se propõe a estourar a bilheteria, pelo contrário, há um público seleto e pronto para absorvê-lo.
David Mamet sempre foi um estupendo roteirista e seus filmes têm cem por cento de unanimidade, são excelentes.
Não adianta classificar As Coisas Mudam como comédia ou drama, nem uma coisa e, muito menos, a outra. Trata-se de um filme, realmente, diferente e que requer um olhar atento do espectador.
A HISTÓRIA:
Um humilde engraxate, Gino (Don Ameche), é confundido com um chefão da máfia que deverá ser julgado. Mais um filminho de máfia? Ledo engano, amigos! Vamos adiante.
Jerry (Joe Mantegna) e seus comparsas "convencem" o pobre Gino a ser julgado no lugar do réu verdadeiro, o tal mafioso e, em troca, o "convencem" a receber como recompensa um simples barquinho de pesca. Gino não esboça qualquer reação de raiva ou revolta, aceita o trato com um certo fatalismo e tranquilidade.
Daí por diante, Jerry, o mafioso atrapalhado, torna-se a sombra do coitado do sapateiro que de coitado não tem nada. Gino é um homem extremamente observador e em paz consigo mesmo, daí o seu bom-caráter acima da média. Honesto, honestíssimo.
As ações transcorrem e ambos vão parar no paraíso do jogo que é Las Vegas e, justamante, no ninho e covil dos maiores bandidões da máfia. Gino permanece impávido, comporta-se com parcimônia e, sem querer, atrai as atenções do manda-chuva que se torna seu melhor amigo e confidente. As cenas aqui são de uma leveza e ternura incomparáveis. Dois homens sonhando com coisas simples da vida onde a grande diferença está em que um deles é miserável e o outro tem tudo em termos de bens materiais. E chega a hora da despedida. O ricaço se emociona e lhe entrega uma ficha telefônica dourada com uma recomendação expressa: "- Qualquer problema, pode me chamar, vou te ajudar!"
Chega o dia do tal julgamento e Gino está preparado para sentar-se no banco dos réus onde recebe a absolvição e soltura. Solto, mas sem liberdade, pois sua morte já está prestes a ocorrer. Gino tem sexto sentido e percebe algo de diferente no ar. Vai ao telefone público e usa a ficha dourada e personalizada do amigo mafioso que cumpre sua palavra, livra-o da sentença dos criminosos da máfia.
Conclusão: Jerry, o mafioso doidão apega-se tanto ao exemplo de vida de Gino que acaba também sendo engraxate na lojinha simples daquele homem bom e despretensioso.
Acharam sem graça? Vejam o filme, mas o vejam com os olhos da alma e aí, só aí, poderão enxergar o valor de se fazer boas e duradouras amizades, sem vaidades ou outros artifícios materiais.
Um destaque aqui para o super ator Don Ameche, o velhinho arrasa em termos de interpretação e não desgrudamos os olhos dele por um segundo. Não tem mulher nua, nem violência, apenas talento de verdade.
O que David Mamet quis provar? Simples, né gente! Não precisa dinheiro a rodo para se fazer um filme de qualidade e de boa estrutura dramática. Qualidade é mais que quantidade, eis a fórmula mágica.
CANTANDO...
Barbra Streisand com seu eterno carisma em People.
Até!


PEOPLE
Pessoas
Pessoas que precisam de pessoas
São as pessoas mais sortudas deste mundo
Somos crianças
Que precisam de outras crianças
Que também deixam o orgulho de serem crescidas
Escondendo tudo o que sentem lá dentro
Agindo mais de forma infantil que as crianças
Amantes são pessoas muito especiais também
Eles são as pessoas mais sortudas deste mundo
Com uma pessoa
Uma pessoa muito especial
Um sentimento lá do fundo de sua alma
Que diz que você estava incompleto,agora está cheio!
Sem mais fome,ou sede
Antes de mais nada,ser alguém que precisa de uma pessoa!
Pessoas que precisam de pessoas
São as pessoas mais sortudas deste mundo!
Uma pessoa muito especial
Sem mais fome,ou sede
Antes de mais nada,ser alguém que precisa de uma pessoa!
Pessoas que precisam de pessoas
São as pessoas mais sortudas deste mundo!