
O "povo do frio" e sua propalada elegância me atraíam; havia um desfile colorido de gorros, cachecóis e até luvas pelas calçadas onde damas exibiam sua beleza nórdica-brasileira. Encantador esse país continente, não acham? Frio e Calor convivendo num mesmo idioma.Entrei numa loja de departamentos e fui comprando, sem olhar o preço, um casaco verde-musgo que combinava com minha cabeleira bem negra.
Voltei ao Hotel Mafra, fui subindo a escadaria gasta que rangia. Cheguei a um quarto amplo, limpíssimo e com inúmeos cobertores e edredons. O frio era intenso, mas havia a luz natural que se espargia através da janela escancarada. Detive-me no parapeito de onde podia divisar uma casinha azul de madeira e... um habitante masculino muito especial.
O rapaz de sobretudo cinza e madeixas douradas grudou-se na minha imaginação e eu já fantasiava, namorando-o. Adolescente, meus amigos, tudo nessa fase TEM que acontecer como nos sonhos. Não acontece, sabemos.Foi no Café da esquina, pela manhã, ao pedir ao garçom aqueles deliciosos pãezinhos crocantes que percebi a presença de Juliano: tremi, mas não foi de frio, lhes garanto!
Juliano viu-me sozinha e veio ao meu encontro com um sorriso inocente e poderoso, me desarmou...

- Você não é daqui? Perguntou-me logo.
- Sou do Rio. Respondi-lhe, forçando desenvoltura, estava confusa por dentro e não me perguntem o porquê.
- Quer sentar-se comigo? Bem, titubeou propositalmente, se não tiver algum compromisso. Sorriu de novo. Fui levitando até sua mesa. Depois daquele longo café, guiou-me até os pontos turísticos da cidade e cedemos às primeiras carícias, as mais ingênuas, pra começar, aquelas do ABC dos jovens que tateiam na penumbra da paixão, escondidos do mundo, escondidos de si mesmos...

-------------------------------------------------------------------*Conto minimalista (ficção).
*Só queria falar da Curitiba que conheci na adolescência. Infelizmente, o Juliano não existiu.
*Agradeço a todos!