quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Retrato em sépia

Um batizado simples na igreja da matriz de uma criança que não chegou a vingar. Semanas depois, a coqueluche viria a tragar aquela frágil vida.
O que sobrou? O que ficou?
Ficou uma foto gasta que jazia no fundo escuro do meu passado. Olhos e mãos ávidas gritaram forte e puseram-se numa tentativa ensandecida de recuperar detalhes, retalhos de um tempo perdido numa colagem fervorosa e paciente, mas até que valeu a pena, e eu tentei, tropeçando daqui e dali, resgatei os "mortos" mais vivos da minha vida: irmã, pai e mãe. Quando o rostinho desfocado da menina surgiu do nada, eu quis logo que fosse em sépia, uma tonalidade com aquele ar antigo e elegante. A irmãzinha que não conheci estava ali, aconchegada nos braços da minha mãe. E eu, no colinho do papai, satisfeita da vida por um breve momento.Tudo passa, sabemos, tudo é efêmero, temos a certeza disso, mas recordar é viver. Vocês não concordam comigo?
Parafraseando Drummond: "De tudo fica um pouco."
Bem, já que falamos em retrato, vou chamar aqui o nosso Chico Buarque para nos embalar com Retrato em Branco e Preto.
Canta pra nós, Chico!