quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Uma alagoana em Salvador


Ouricuri, coquinho comestível que se rompe em duas metades iguais. Na linguagem dos índios e cablocos alagoanos quer dizer, Pariconha, cidadezinha sertaneja com  pouco mais de uma década de independência. Essa é a minha distante aldeia natal. É isso aí, nasci em Alagoas. Em eras passadas, dançar "o coco" era coisa só de homem e mulher solteira. Meu avô foi o mais reconhecido dançarino de coco de sua época. Ao morrer, só disse dois nomes de mulheres: Florence e Zabelê, suas fiéis parceiras de dança, e talvez de amores proibidos.
A moça criada no Rio, desconhece quase tudo que a rodeia e se inebria com os verdes roçados de doces melancias que serpenteiam caatinga adentro. Precisa reencontrar suas origens e pisa fundo no acelerador do jipe que sobe pelo serrotinho acima onde seus velhos e queridos avós construíram a casa branca de pedras. Salta e abre o portão de madeira que ao ranger, demonstra um queixume pelo abandono e a espera pelos longos anos sem carinho. Cômodos escuros e vazios. Não há como evitar as lágrimas...
As férias estão por terminar, mas a Rio-Bahia nos atrai e o mesmo jipão põe-se a rodar pela madrugada, ao encontro das luzes de Jequié. Daí para Salvador, é um pulo.
Baianinhas de rendas alvas ao sol, estendem seus tabuleiros de acarajés e outros quitutes pelas escadarias do Bonfim. Fitinhas coloridas, balangandãs e lembrancinhas balouçam com o impulso da brisa baiana. Alguém puxa-nos delicadamente pelo braço e nos segreda que necessário se faz que recebamos as devidas bênçãos dos Orixás, mas só depois  de rezarmos uma missa ao Senhor do Bonfim, terra amiga e gostosa do sincretismo é essa primeira capital do Brasil.Nunca vou te esquecer, Bahia.

De volta à pensão familiar, um rapaz de camisa aberta, pondo à mostra seu másculo peito moreno, abraça a cintura do seu violão, deixando que a noite se escoasse bem dentro de mim no sem fim de Jorge Amado, Caymmi, João Gilberto,  Caetano, Gil, Gal e tantos, tantos outros.

PS: Volto antes do Natal, tchau, tchau!

Mil e um beijinhos procês, e provem aí os coquinhos tenros do ouricurizeiro. Pode crer, nunca houve um sabor igual.