sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Louca Passarada...

Eu tava lá no mato vendo aquele verde, tão verde que fiquei curada dos males do meu ego. Daí, fui abrir a janela e o que vejo por detrás da cortina? Ninho de passarinho com aquele ovinho minúsculo, azulado e veio a mãe passarinha para chocá-lo. Deixei. Não me meto com mães, ainda mais com mães de passarinhos. Na verdade, adorei que ela tenha escolhido meu quarto para servir-lhe de maternidade.
Lá fora, a cantoria era total : sabiás de laranjeira, bem-te-vis e até pica-paus no velho pé de jamelão.



Na infância, convivi com canários belgas amarelinhos que espalhavam alpiste no assoalho limpinho...


Por isso, hoje, só quero falar neles, os desconfiados passarinhos. Estão certos, por que deveriam confiar nos meninos e seus mortíferos estilingues?



Beija-flor bebendo mel, João de Barro construindo sua casa e lá no alto do galho da mangueira, a corujinha esperta a tudo assistindo.

E como já cantava Fátima Guedes, nada de perturbar a "doida, louca passarada".Deitei na rede e dormi...




AGRADECIMENTO:
Ao Amigo Daniel pelo Poema que nos presenteou. Na verdade, o próprio Poeta já é o nosso maior presente pelo seu cavalheirismo e gentileza. Obrigada!

sábado, 12 de setembro de 2009

Fuga por becos, libertação

Densa foi a noite enquanto a escuridão encobre estrelas. Parecia-me estar de olhos vendados e caminhando para a morte iminente, inglória, solitário fim. Instinto e intuição sopram em meus ouvidos:
- Fuja, eles virão em pouco tempo, te trucidarão e serás levada à arena ainda úmida do sangue sagrado dos cristãos.
A cabeça ferve, o coração altera seu ritmo e entra em descompasso. No desabalar da correria me desembesto pelo chão de terra batida de algum mundo incongruente fora ou dentro de mim mesma, fujo.
Sem gritar, sem gemer, oculto-me o quanto posso. Assim, fui ficando invisível, virei noite também. O inimigo estava à espreita e me caçava armado até os dentes, exército de lobos, uivos, muitos uivos.
Negrume sem fim até que avisto uma luzinha trêmula em um beco, uma viela estreita encoberta por ramagens vivas entranhadas entre si. Segui pelo caminho estreito sem pensar duas vezes. Bati em algumas portas implorando abrigo, mas ninguém socorre aos desesperados porque desesperados estão.
O medo ia me congelando as veias, mas um espinheiro rasgou-me a pele e o sangue brotou quente. Um naco de mim ficou por lá. Não faz mal, sempre deixamos algo para trás...
Pela fresta da janela uma mulherzinha encarquilhada com as mãos em concha sobre os lábios me reanima e diz ,sem convicção, que me safarei. Não lhe presto atenção.
Corro mais e apuro bem a audição: os uivos e ruídos desapareceram. Talvez tenham desistido, agarro-me a essa suposta esperança.
O casario desgastado se sucede, perco os sapatos e a cinderela castiga seus pés nas pedras pontiagudas, nenhuma dor, quero escapar, somente. Dia amanhece.
Cheguei!
Uma cerquinha tosca encerra a longa trilha. Preparo-me para o salto definitivo. Puxo todo o ar que me resta no peito e pulo como um felino para o outro lado. O cenário se transforma e automóveis ferozes deslizam em alucinada velocidade pela avenida larga da megalópole. Lobos de metais brilhantes, temo pedir-lhes carona, quase me atropelam.
Bem, pelo menos, por enquanto, estou livre!




Nota:
Texto baseado em sonhos recorrentes que não gosto de interpretar, nem tentarei. Basta-me que sirvam de fonte de inspiração.