quarta-feira, 9 de março de 2011

Olhos de Espuma

Um par de olhos espreitavam aquele minucioso e pormenorizado ritual. Vanda destacava a tampa da lata de sabão pastoso que, por sinal, mostrava uma aparência rutilante ao sol e um aroma que de tão penetrante invadia todas as casas da vizinhança.
Degraus de mármore alvíssimos eram esfregados palmo a palmo pelas mãos ágeis daquela senhora. Em consequência, bolhas transparentes e coloridas surgiam para extasiar aqueles olhos observadores. Olhos que escorregavam na espuma de um passado sem retorno, obscuridade.
Na face de Vanda havia uma expressão contida, mas satisfeita, nada mais.
O trabalho iria se repetir sempre, dia após dia. A escadaria branca ia ficando mais e mais clara, transparente, até desaparecer no tempo-espaço da relatividade einsteiniana.
Os olhos viam. A mente não correspondia.