sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O que guardamos no céu da boca


O poético seria dizer que são estrelas no fundo escuro das noites sem fim das galáxias em espirais medonhas engolfadas por buracos negros.
Mentira.
Mera hipótese literária.
Uma língua úmida de palavras desconexas com ilimitados nexos passeia pelos dentes afiados lisos brancos arredondados desafiados a morder a quem aparecer pela frente feito cachorro louco raivoso.
Emudeceu. Guardei a língua para não te dizer palavra.
Não prometo ao mundo minha mudez. Prometer não muda.
Prometer mete a lâmina afiada na criança do poema que não nascerá.
Promete-se nada se cumpre. No céu da boca guarda-se cuspe.
Saliva amarga

-----
Rosa Passos canta - canta de verdade - 'Curare' de Bororó.

Ouve, gente! Sem pressa! Isso é papa fina...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Anjos e Ângulos


Um anjo solitário sobrevoa a imensa e urbanizada Berlim. Pára por alguns minutos e repousa sobre um monumento dourado com a forma de anjo alado - ele não possui asas, ainda. Mas esse anjo, em particular, não deseja mais o status celestial, ele quer ser humano, amar, sofrer e se angustiar com a paixão que sente por uma bela, escultural e triste trapezista de circo.

Asas do Desejo (1987) de Wim Winders é um sonho, um poema que alia sensibilidade e técnica no mais alto grau da construção cinematográfica em todos os tempos. Está no topo, dentre os, pelo menos, cem filmes mais importantes do mundo. Mas querem mesmo saber o que me encantou nele? Pois bem, vou revelar-lhes:
- Seus ângulos, seus amplos planos do alto, do céu. É aquele negócio de você entrar no filme junto com o diretor e personagens e suspirar de tristeza quando o filme acaba. Aí, a gente volta a revê-lo e o vemos, mas com um novo olhar, prestando atenção aos mínimos detalhes e diálogos que nos escaparam da primeira vez.
Por exemplo, a atuação do saudoso Peter Falk (o Columbo do seriado que marcou época) é brilhante por ele ser um anjo que convive com os humanos sem que os mesmos possam se dar conta disso. Creio mesmo que na vida real, Falk também detivesse esse toque de carisma angelical. Adorável Peter Falk, sempre te amei!
A filmografia de Wim Wenders é extensa, com seus curtas e longas metragens que nos arrebatam e nos prendem a atenção como se fôssemos, volto a repetir, co-partícipes das suas filmagens.
Aproveitei também o ensejo para inserir três fotos do grande diretor, já que o mesmo mostra-se um fotógrafo espetacular das coisas mais simples da vida e, para quem desconhece, começou sua carreira como desenhista.Não lhes peço que gostem do que aprecio, porém se sobrar um tempinho,tentem se envolver de corpo e alma na estética transcendental desse mago do cinema.
Angie com os Rolling Stones faz o fundo musical. Wenders sempre curtiu um rock balada bem maneiro.
Então tá! Por hoje, é só!Vamos dar asas à nossa imaginação...