sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Moça, A Chuva

Daquele décimo andar, eu podia ver com nitidez as densas nuvens carregadas que ameaçavam desabar sobre as cabeças dos pedestres lá embaixo.
A moça de vestido branco de malha, alisou, com uma das mãos, os cabelos que o vento deixara em desalinho, sentia-se nela uma certa tensão nervosa, o prenúncio da tempestade agitara sua dócil alma. Andou mais rápido, mas as gotas já começavam a cair pela calçada, uma gotinha aqui, outra mais adiante, começou então a chover. Segura no apartamento, avistei um carro cor de prata que ia diminuindo a marcha até estacionar bem próximo àquela desprotegida jovem. Um braço muito peludo, masculino, estendera-se e fez sinal para que ela entrasse. Ela não entrou, acelerou ainda mais o passo, preferindo banhar-se com água de chuva a ter que aceitar o enganador conforto do dono do carrão reluzente.
- Recolha o teu braço e a tua sórdida libido, homem prepotente! Pensei e sorvi aquele momento tão fugaz, mas que revelava a retidão de caráter de uma mulher anônima, empapada de chuva até o último fio de cabelo.
A moça dobrou a esquina, enlameando seus delicados pés nas sujas poças d'água...
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Ah, já ia me esquecendo da trilha sonora! Que tal Jorge Benjor e Toquinho? Ótimos, né?
"Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só pra ver o meu amor
Ela vem toda de branco
Molhada
Linda e despenteada
Que maravilha..."
Que Maravilha é o título da música e tem aquele final fantástico:
"A girar...
A girar..."