Daquele décimo andar, eu podia ver com nitidez as densas nuvens carregadas que ameaçavam desabar sobre as cabeças dos pedestres lá embaixo.A moça de vestido branco de malha, alisou, com uma das mãos, os cabelos que o vento deixara em desalinho, sentia-se nela uma certa tensão nervosa, o prenúncio da tempestade agitara sua dócil alma. Andou mais rápido, mas as gotas já começavam a cair pela calçada, uma gotinha aqui, outra mais adiante, começou então a chover. Segura no apartamento, avistei um carro cor de prata que ia diminuindo a marcha até estacionar bem próximo àquela desprotegida jovem. Um braço muito peludo, masculino, estendera-se e fez sinal para que ela entrasse. Ela não entrou, acelerou ainda mais o passo, preferindo banhar-se com água de chuva a ter que aceitar o enganador conforto do dono do carrão reluzente.
- Recolha o teu braço e a tua sórdida libido, homem prepotente! Pensei e sorvi aquele momento tão fugaz, mas que revelava a retidão de caráter de uma mulher anônima, empapada de chuva até o último fio de cabelo.
A moça dobrou a esquina, enlameando seus delicados pés nas sujas poças d'água...-----------
Ah, já ia me esquecendo da trilha sonora! Que tal Jorge Benjor e Toquinho? Ótimos, né?"Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndoSó pra ver o meu amor
Ela vem toda de brancoMolhada
Linda e despenteadaQue maravilha..."
Que Maravilha é o título da música e tem aquele final fantástico:"A girar...
A girar..."