terça-feira, 18 de novembro de 2014

Coelhos e Canteiros

Ele sempre se sentia perdido quando tinha que optar entre isso ou aquilo E aí vinha aquele desespero antes e depois daquelas escolhas obrigatórias do dia a dia.
Foi numa dessas ocasiões, mais precisamente, no dia do seu aniversário - ia completar quarenta anos - que sentiu uma vontade forte de lançar fora de si velhos hábitos e convenções já enraizados no seu mundo interior.
Numa manhã bem clara, olhou para os canteiros que sua pequena Anabela, plantara no fundo do quintal quando ouviu ali arrufos e alguns movimentos entre as verdes ramagens. Era ele, o pequeno e devastador orelhudo, um belo coelhinho castanho dourado que se apropriava sem pudor das tenras cenourinhas que começavam a crescer terra adentro. Porém, Mark apenas observou e não fez nenhuma menção de atrapalhar "o almoço" do ladrãozinho esfomeado. Ficou ali parado, estudando suas reações e sentindo um grande prazer com toda aquela atividade, um dia conseguiria sua amizade, pensou.
Voltou para dentro de casa, jantou com a família e caiu na cama cansado, mal beijando sua mulher que, coitada, vivia atarefada com os seus intermináveis serviços domésticos, e pior, sem o seu carinho e diálogo.
Mark já não era mais o mesmo marido de antes, o mesmo amante envolvente e fogoso. Sentia-se como um autômato que tomava banho, escovava os dentes e fechava os olhos para que caísse sobre ele o esquecimento do mundo e seus insolúveis problemas.
Continuaremos depois...
Curtam  aí o talentoso Raimundo Fagner e seus Canteiros.
As imagens são do filme "O Ano do Coelho" com uma das mais notáveis atuações de Christopher Lambert e um belíssimo roteiro baseado num livro muito sensível.


PS: Vou responder a todos os amigos que amavelmente me comentaram enquanto o nosso pc se encontrava em manutenção. Tudo vai voltar ao normal, se Deus quiser! Beijinhos...