sábado, 27 de setembro de 2008

WIM WENDERS EM PORTUGAL

FILME: " O CÉU DE LISBOA"
DEDICATÓRIA: AO AMIGO DO CORAÇÃO, DANIEL, UM MILAGRE DE LISBOA...
FILME REALIZADO EM COMEMORAÇÃO AOS 100 ANOS DO CINEMA MUNDIAL
Título original: Lisbon Story (Portugal/Alemanha, 1994)
Diretor: Wim Wenders
Elenco: Rüdiger Vogler, Patrick Bauchau, Teresa Salgueiro, Pedro Ayres Magalhães, Joel Cunha Ferreira, Sofia Bénard da Costa, João Canijo
Extras: Featurette "Os Sons de "O Céu de Lisboa'" (sobre a música do Madredeus), trailer e galeria de fotos.
Idioma: Multilíngüe e Inglês
Legendas: Português, Espanhol, Japonês
Gênero: Comédia/ Drama
Duração: 134 min. Cor
Distribuidora: Paris Filmes
Em 100 anos de cinema, Wenders brinda-nos com uma sincera e profunda discussão sobre a função estética do cinema contemporâneo.
Wim Wenders(1945) : o primeiro cineasta do então chamado Jovem Cinema Alemão a estudar cinema regularmente. Abandonou os estudos de Medicina e Filosofia para dedicar-se ao cinema.
Suas obras mais conhecidas são: "Amigo Americano"(1977); " Paris, Texas" (1984) e "Asas do Desejo" (1987).
ROTEIRO E COMENTÁRIOS:
Um sonoplasta profissional vai à Lisboa a convite de um amigo cineasta e enquanto espera que ele apareça, vai se envolvendo com a cidade sob todos os níveis: social, econômico, cultural...
O filme narra as aventuras desse sonoplasta que se mostra um tipo meio cômico, Philip Winter (o alemão Rüdiger Vogler) que pretende atender à convocação do diretor do filme a ser realizado, mas as coisas não acontecem exatamente como ele esperava.
Winter viaja de carro, meditando sobre a nova condição da Europa que, praticamente, se transforma na União Européia. Daí ele começa a treinar vários idiomas, como o italiano, o francês e por fim, decide-se a ouvir e repetir frases em Português para quando da chegada a Portugal se sentir familiarizado com o idioma.
Descobrirá, entretanto, um outro Universo em Lisboa, ou seja, de precariedade, tendo em vista que ele foi parar num apartamento em ruínas que seria a residência do seu amigo e patrão.
Mas antes de lá chegar, vários incidentes o deixarão quase em desespero por perceber que há pontos sem explicação para essa propalada "união" da velha Europa; Philip está na Lisboa antiga vivenciando os problemas de um lugar decadente e pobre, porém com seus encantos que resultarão em preciosas reflexões.
Lá, ele descobre que haviam crianças portuguesas que a tudo filmavam por ordem do cineasta, inclusive a ele mesmo, fato que, aos poucos, vai despertando em seu espírito uma simpatia por aquele país tão próximo quanto desconhecido dos próprios "vizinhos ricos"...
Enquanto vai se adaptando ao novo ambiente, Philip Winter começa a conhecer a cultura musical lusitana através do grupo Madredeus que tem como solista a encantadora Teresa Salgueiro, por quem se apaixona.
O grupo também trabalhava na trilha sonora do filme do amigo Fritz, músicas belíssimas, por sinal.
GRUPO MUSICAL MADREDEUS
Philip começa a se embevecer com essa poesia sonora que vai permear todo o filme. O primeiro momento inaugura-se quando ele faz alguns velhos truques de sonoplastia para as crianças, que, por um momento, abandonam suas moderníssimas câmeras digitais para, atentamente, acompanharem cada som, tentando adivinhá-los.
O segundo momento é quando ele descobre um livro de Fernando Pessoa que o seu patrão sublinhou-o em certos versos, versos esses que, através dos lábios de Philip, vão fazer parte do enredo cinematográfico.
Philip lê para nós, por exemplo, o trecho do Poeta Pessoa, destacado no livro por Fritz, o cineasta:
" O pensamento nasceu cego
mas sabe o que está vendo"

No momento seguinte, nosso sonoplasta, nos leva para as ruas de Lisboa com o seu microfone em punho. Os primeiros sons registrados são vozes e passos de crianças, em seguida o vôo dos pombos.
O velho bonde com a propaganda da "Coca Cola" contrasta com os tradicionais costumes lusitanos.
A urbanização da capital nos transmite uma lenta evolução tecnológica.
A música do Madredeus continua guiando o filme. Desta vez é a delicada música "Tejo".Um dos integrantes do grupo explica-lhe que:
"Tejo" é sobre o rio que seria a única testemunha das nossas vidas, não apenas a cidade".
Teresa anuncia a partida do grupo, mas ambos pretendem se rever, dada a afinidade e a paixão que os envolve.
Alguns velhos rolos dos filmes de Fritz, o diretor, vão desfilando por nossos olhos, filmes que ele se recusa a ver; está desiludido, deprimido e revolta-se com o cotidiano do cinema.
No apartamento de Fritz , Philip nos vai premiando com mais pensamentos do Poeta:
"À luz do dia, até
os sons brilham."
Desejei , como os sons, viver
pelas coisas e não por elas ser.
...ouço sem ter de Olhar"...

Outros versos de Pessoa são lidos:
" Lá não havia luz elétrica.
Li, portanto, à luz de velas
o que havia para ler.
A Bíblia em português,
a Primeira Epístola aos Coríntios.
Um mar de sentimentos quebrando em mim .
Sou uma ficção.
O que no mundo procuro?
O que eu espero de mim ou dela?
Se eu não tivesse amor..."

MEU DEUS, EU NÃO TENHO AMOR!"
PESSOA, DEZEMBRO DE 1934, POUCO ANTES DE SUA MORTE... MOMENTO ENTERNECEDOR!

Para se certificar da citação bíblica o nosso personagem lê o trecho citado por Pessoa e comenta:
"Nada é verdade"...
No ponto máximo do filme haverá o encontro com o diretor Manoel de Oliveira.
O que Oliveira registra no filme é a sua homenagem particular aos 100 anos da História do Cinema.
Philip, em determinado momento, revolta-se com os meninos cineastas e grita em alemão:
"Vocês não são turistas e eu não sou um monumento! Videoturistas!Videotas!"
Ao final, assistimos a uma discussão entre Philip e o cineasta Fritz sobre a função social e a filosofia do cinema; Fritz ainda lhe revela que filmava Lisboa com a câmera nas costas para que ele próprio jamais pudesse ver as filmagens, mesmo porque, TUDO, na sua opinião, já fora visto no cinema. Philip contesta e afirma que sempre haverá ALGO NOVO a ser filmado e visto.
A última cena os reúne filmando toda a cidade de Lisboa...Os opostos se encontraram e se complementaram: SOM E IMAGEM...
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Essa é a visão do alemão Wenders sobre o cinema a partir do "Céu de Lisboa"!

QUADRO LINDÍSSIMO COM O POETA FERNANDO PESSOA (não conseguimos identificar seu autor)
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NOTA TRISTE: Acabo de ler que o Lendário e MAGNÍFICO ATOR E SER HUMANO, PAUL NEWMAN, acaba de falecer...Puxa, meu querido, esse não foi "UM GOLPE DE MESTRE"! Foi um golpe para todos os Homens e Mulheres que te amavam como ARTISTA E HOMEM QUE DOAVA , ALÉM DA SUA ARTE E DINHEIRO, NOS LEGOU, PRINCIPALMENTE, UM EXEMPLO DE HONRADEZ E LUTA PELOS EXCLUÍDOS DE TODO O MUNDO...ESTÁS NOS BRAÇOS DO CRIADOR...MOÇO DOS " OLHOS BRILHANTES"!!!