quinta-feira, 28 de julho de 2011

Daniel, o Brasileirão

Um bonde lotado passa pela avenida. A tarde já vem caindo e o céu da cidade se desabotoa em tons múltiplos de azuis e rosa pálido.

Sapatos mocassins e jeans claro, vê-se um senhor grisalho, belo e vigoroso na sua maturidade. Ele entra num café de portal de madeira maciça, senta-se à mesa forrada de toalha quadriculada e, em voz muito baixa, pede ao garçom uma caneca de vinho verde acompanhada de sardinhas fritas ao azeite. Estamos em Lisboa.

O lugarejo tem apenas uma estrada sem fim que percorre a caatinga seca, mas que revela um umbuzeiro florido sob o sol escaldante, enquanto o gado faminto e magro devora um pé espinhoso, mas suculento, de mandacaru.Ouvindo um repentista velho e cego, Daniel oferece sua mão a uma cabocla de negras tranças. Ambos ouvem Pavão Mysterioso, o cordel mais cantado do sertão, cuja origem remonta à mais antiga tradição oral do povo brasileiro.

Lá, onde o fado nasceu sob xale negro e triste; aqui, onde o sanfoneiro anima a todos com forrós, emboladas e cocos, esse singular Poeta, participa e até canta, juntando sua voz a todas as vozes dos trabalhadores do sertão.Brasileirão de coração aberto em paz, segue Daniel Costa, reconstruindo essa ponte entre duas nações, Brasil e Portugal.

Ednardo, compositor cearense, uniu-se no passado ao Fagner, Belchior e Amelinha para reacender a cultura popular nordestina. Daí, nasceram "muitos filhos", entre eles, o resssurgimento da literatura de cordel onde Pavão Mysterioso tem seu ápice. O clipe surpreende por sua universalidade e estética puramente nordestinas, vamos curtir?
Beijos, amigo Daniel!
Um cheiro pr'ocês...