terça-feira, 12 de junho de 2012

Vovô, o homem invisível

Do minúsculo bolso do colete, ele sacava um papel amarfanhado, velho, gasto. Muito contrito, imbuído do fervor da fé, movia os lábios. Seus olhos, absurdamente azuis, passeavam, indo e vindo nas órbitas em perseguição às linhas mágicas já por demais decoradas e descoradas por sua imaginação fértil e madura.
Momento seguinte, lá estava o lépido velhinho, aquecendo-se no fogão à lenha, caneca fumegante de café na mão.
Vô, me conta, como aconteceu essa mágica? Pergunta o netinho mais esperto.
Qual mágica, filho? Responde ele, sem demonstrar nenhuma vontade de responder.
O sinhô tava rezando agora no oratório e agora, tá aqui tomando café com a gente. Vai, me conta!
Tomou mais um bom gole do líquido escuro e fervente quando, repentinamente, o brilho intenso do seu olhar tomou conta das nossas vidas... para sempre. 

Nota: As duas imagens usadas aqui pertencem ao grande ator sueco, Max Von Sidow, fato que, além de nos honrar muito, vem de encontro à sua indicação ao Oscar passado, embora não tenha levado o prêmio, infelizmente, pois o merecia. Ator de obra extensa e de qualidades cênicas acima da média, Von Sidow foi um dos atores mais prestigiados pelos grandes diretores, como, por exemplo, Ingmar Bergman. Nesse seu último filme, onde faz o papel de velhinho misterioso e (talvez) mudo, ele prende a nossa atenção do começo ao fim. Claro, não vou contar o filme. Vejam e reflitam por si próprios, mas aviso: não é um drama lacrimejante.
Quanto às nossas férias, foram boas. Agradeço a todos que me deram apoio  com as suas presenças e comentários.
Um beijo enorme!!!