sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Coelhos e Canteiros - Mark aproxima-se de Castanho, mas...

Mark e Castanho: uma difícil e estranha convivência.
Camiseta rasgada e bermudas desbotadas demonstram muito bem o quanto o moço não dá a mínima para a aparência. O que ele pretende mesmo é chegar à toca de Castanho e para atraí-lo, leva-lhe guloseimas, mas o bicho está arisco, selvagem, seus olhos flamejam como chispas de fogo no breu subterrâneo onde montou suas barricadas para enfrentar o inimigo. Mas o homem insiste e enfia seus longos dedos por entre a terra escura e úmida.
- Aiiiii! Ouve-se um grito estridente que atravessa os tímpanos mais sensíveis da vizinhança. Castanho acerta-lhe uma dentada daquelas. (-Ora, me respeite, seu humano enxerido!)
Bem, por linhas transversas, a tática de retirar o coelhinho da toca até que deu resultado e funcionou no sentido de que todos vissem o animalzinho pendurado no dedo indicador de Mark que sangrava dolorosamente.
- Bicho malvado, vou te levar para a panela agora! (mais uma promessa de vingança que não se concretizaria)
E aí, entra a menina Anabela falando com o coração que só as meninas possuem:
- Pai, você tá maluco? Meu coelho não vai pra panela nenhuma! Vê se para de fazer drama, tá?
E o pai cedeu. Curativo no dedo, retirou o empoeirado carrinho domingueiro da garagem e todo mundo se acomodou ali como pode. -Vamos ao shopping? Vamos!
Mas cá entre nós, isso é o que veremos a seguir. Castanho, menos tenso e no colo macio de sua dona, tira uma confortável soneca. Mas de repente, um solavanco, uma freada brusca, muda completamente os planos dessa família de classe média que se equilibra em dívidas de cartões de crédito para sobreviver.
Uma passeata de pessoas de todos os naipes sociais, idades diversas, até de crianças de colo, atravessa o caminho de Mark. Cartazes imensos pedem Paz, Ética, Respeito e o Não à Corrupção se fazem tremular nas mãos do povo. São, todos nós sabemos, aqueles direitos básicos que sempre nos faltaram há tanto, tanto tempo que nem temos  mais certeza se existiram algum dia, a não ser nos velhos e empoeirados dicionários.
Gertrude, a mãe, tem uma intuição e pondo sua delicada mão no rosto do marido, apenas lhe pede: - Pare esse carro, meu bem! Vamos descer e seguir essa pacífica gente boa. Mark também sentindo o mesmo desejo, embrenha-se entre desconhecidos e sente-se importante. Ele e sua família agora têm um grande objetivo na vida, vão lutar pela PAZ. Aquele sonho da noite anterior logo lhe vem à lembrança e aqueles rostos já lhe parecem familiares; o garotinho louro despenteado, o magro senhor moreno ao seu lado. Todos formam um só bloco, um belo amálgama de algo que sempre quis viver, mas nunca viveu...
"Eu tenho o coração selvagem e essa pressa de viver..." Belíssima composição do poeta-compositor Belchior, cantamos juntos? Eu, por exemplo, sempre que posso, me deixo levar pelo universo adentro desse genial cearense. Selvagem, mas doce e amoroso.
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Amigos, responderei a todos os comentários no decorrer da próxima semana. Tenham todos um bom e repousante fim de semana!