quinta-feira, 8 de abril de 2010

Encontro no Shopping

Cristiano Navarro estaciona no Shopping, paga o flanelinha que o trata por "doutor", ambos já são conhecidos e se dão bem, a mão do rapaz bem vestido acaricia a cabeça do menino.
Aniversário de Myrna, precisa escolher o presente da namorada. Entra na joalheria, examina as jóias no balcão, a vendedora tenta convencê-lo a levar um anel, mas ele não se interessa por nada e sai sem comprar.
Percorre os corredores sob luzes feéricas, observa os passantes. Uma jovem, Teci, vem vindo em sua direção, suas ancas mostram um certo requebro e seus fartos seios balouçam dentro daquele vestido estampado. Na mão direita, um sorvete que leva aos lábios. Passam um pelo outro. Um rastro com aroma de vetiver fica no ar. O homem pára e gira o corpo sobre os calcanhares indo ao encalço da jovem enquanto procura em sua mente uma desculpa para abordá-la.
- Por favor, senhorita!
- Hã, o senhor...
- Tudo bem, é que estou com dúvidas sobre um presente que tenho que dar para minha...tia (ele resolve mentir), poderia ajudar-me a escolher?
- Não sei, talvez...
Olhos negros e langorosos, pestanas espessas, Teci o enfeitiça de imediato.
- Calor, vamos tomar um suco? Ele a convida.
Ela aceita o convite, mas com alguma hesitação, e o assunto começa pela provável escolha do presente e desvia-se. Ambos estão a se observarem mutuamente. Ele conta sobre suas viagens internacionais, lugares exóticos e ela sobre sua faculdade de veterinária. Telefones trocados e a estonteante beldade afasta-se no natural balanço dos seus vinte anos em flor.
O presente da namorada, recupera-se Cristiano.
Secretária da empresa, Myrna mostra-se sempre atenta e minuciosa em todos os detalhes, mas em casa, com tanto o que fazer, mal consegue livrar-se do terninho cinza que lhe comprime o corpo.
Cristiano chega ao apartamento e a suspende no ar com um abraço de tirar-lhe o fôlego.
Suspiros e uma queixa sussurrada ao ouvido de Myrna:
- A roupa está atrapalhando, meu bem...
Amantes atrapalham-se sempre, o amor nunca chega na hora certa e nos surpreende quando menos esperamos. Roupas e o presente comprado às pressas vão parar num lugar qualquer, lugar onde os que se amam nunca se importam onde irão encontrá-los depois.
Manhã seguinte, o jovem executivo, no seu escritório do décimo andar, encontra o guardanapo onde escrevera o número do telefone de Teci.
- Alô, Teci está?
- Pode falar, sou eu mesma...
- Posso te encontrar hoje à noite? Vamos jantar?
- Puxa, desculpe-me, mas hoje vou sair com meu noivo. Responde Teci suavemente, mas com firmeza.
Ducha de água gelada cai sobre a cabeça de Cristiano que se recusa a ouvir um não. Não, não vai ficar sozinho àquela noite, decide-se no íntimo.
Liga para a boa e obediente Myrna:
- Querida, comprei umas entradas para um espetáculo de dança, aquele grupo de tango que você queria assistir...
Myrna interrompe-o, impaciente.
- Não vai dar! Estou saindo agora, vou viajar.
- Para onde? Quer saber.
- Te conto na volta, tchau! Desliga sem mais explicar.
Cristiano olha ao seu redor, está desolado. Vai até à cozinha, toma alguns copos de vinho, volta ao quarto, deita-se e chora. Ou vocês acham que homem não pode chorar? ____________________F I M____________________
MAESTRO ALEJANDRO SANZ CANTA...
Um dos maiores compositores e intérpretes da música Flamenca de todos os tempos, chegando a trabalhar com o não menos talentoso Paco de Lucía.
"Corazón Partío" espalhou-se feito rastilho de pólvora que incendiou todas as platéias do mundo. Ouçam e abram o vídeo para o ritmo e a dança de Alejandro, um colírio para os olhos.Esse espanhol me causa arrepios!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Uma lenda sufi...

A Árvore da Vida - Gustav Klimt

O Imperador convocou todos os artistas plásticos do seu reino - os melhores. Enviou também um convite aos gregos que o aceitaram prontamente.
Chineses e Gregos, todos artistas famosos e renomados, foram presos num quarto dividido ao meio por uma cortina. Dias depois, a porta foi aberta. O Imperador e sua comitiva adentraram o ambiente e, num gesto todo cheio de pompa, o mesmo afastou o tecido vagarosamente. Um murmúrio de deslumbramento foi tomando conta do recinto. Na parede onde os artistas chineses trabalharam haviam pássaros do paraíso, flores raras, um céu com seus astros dispostos com perfeição, enfim, uma pintura inigualável, sem um mínimo defeito sequer. E o que havia do lado oposto que pertencia aos gregos? Apenas uma parede totalmente polida. Sim, os gregos transformaram a parede num magnífico espelho que refletia toda a soberba beleza da Arte Chinesa. O Imperador não teve um momento de hesitação, concedeu a vitória aos Gregos e com a seguinte honraria:
"Aquele que sabe refletir a beleza do mundo e tudo o que nele há, esse, sim, será digno de ser ouvido e reverenciado."

Tomaz Lima, o "Homem de Bem":

Musicoterapeuta, interpreta os milenares mantras indianos com toques ocidentais onde mistura os sons do sitar, saxofone, cordas, mridangem, cuíca, flautas, oboé, harpa, charango e darbuka. Preciso dizer mais?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Estrelas nas noites de Van Gogh...

REMETENTE: Rachel


DESTINATÁRIO: Vincent Willem Van Gogh

"Vincent querido,


Faz tanto tempo e nem sei por onde começar. Olho para o firmamento só para ver as constelações que pintavas, elas ainda cintilam, mas o homem apagou-se da minha existência.
Não consigo conter essa dor da tua partida repentina, sem um beijo ou um adeus. Gostaria de não relembrar-me das tragédias e brigas na casa amarela onde você e Paul Gauguin moravam.
Horrendo foi o instante em que me entregastes o lenço sanguinolento com a tua orelha decepada. Por que para mim? Foi o absinto, eu sei. Foi o desespero da solidão, eu sei. Não encontravas um caminho e caíste no sombrio abismo dos comedores de batatas. Estudavas a Bíblia para salvar almas, mas já estavas perdido.Sonhavas em ser um pastor, mas onde foram parar tuas ovelhas?
Tivemos bons momentos, meu ruivo amado. Por vezes, ficavas a desenhar no ar, com as mãos, as paisagens de Rubens, teu preferido. Confesso que não entendia os teus arroubos, apenas adivinhava a tua paixão incendiária no teu magro peito. Magros, éramos dois famintos que vivíamos às expensas de Theo, o caridoso irmão.
A barba por fazer, a cama tosca onde, nus, nos entregávamos ao prazer dos miseráveis. Dizias com ciúme que eu tinha outros, era verdade. Só te esquecias que tu foste o único que amei em silêncio, pois nessa vida que levo, não devo ousar amar. Chamam-me de prostituta, assim morrerei, foi meu destino.
Gachet, teu médico, não me deu certeza da tua recuperação, mas peço por ti em minhas orações.
E assim, sem saber se essa missiva chegará às tuas mãos manchadas pelas tintas, já estou me despedindo. Despedida definitiva, a tuberculose invade meus pulmões.
Só pretendo mesmo te dizer, Vincent, que nunca, nunca vou te esquecer...
Tua,

Rachel"



É ficção, minha gente! Essa carta nunca existiu. Motivos para fazer a postagem: Van Gogh nunca foi reconhecido em vida e jamais alcançou o amor das mulheres. Além do mais, meus ancestrais eram holandeses provenientes de Zundert na Holanda. Mais ainda, Aldoux Huxley reconheceu a transcendência metafísica na cor amarela que o pintor deixava explodir em suas telas.
Em "Sede de Viver", o filme que traça as biografias dos dois grandes, Van Gogh e Paul Gauguin, contamos com as interpretações marcantes de Anthony Quinn e Kirk Douglas e, de quebra, uma trilha sonora esplendorosa. Vincent merece!

Starry, Starry in Night...a música...


Estou tirando uns quinze dias ou mais para cuidar da vida real. Vai tudo bem! Não se preocupem!

Responderei aos comentários que porventura receber com o carinho e respeito de sempre...
As tulipas do Dr. Clusius não poderiam faltar aqui - ele foi o primeiro médico a fundar a primeira Universidade de Medicina do mundo e na Holanda. Os célebres Países Baixos da monumental engenharia dos diques para conter o avanço das águas são também um grande exemplo da luta de um povo por sua nação.

terça-feira, 16 de março de 2010

Uma Ilusão à toa...

Aquela cena nunca me sairá da cabeça. A orla marítima iluminada, tal como um cordão de luzes, contornando Copacabana. Os automóveis zunindo pela pista larga. Volto a cabeça para o lado e meu olhar recai sobre um jovem casal.
Ele, sem mais nem menos, toma de súbito sua namorada nos braços e assim, driblando a morte, atravessam a avenida. O perigo não intimida aos que amam, fui testemunha.
Uma brisa do mar soprou sobre os cabelos da menina e ela, de olhos fechados, enovelou-se mais ainda ao pescoço do namoradinho.
Nunca saberei se aquele momento não passou de uma ilusão à toa...

A cena existiu, mas a usei como um bom pretexto para falar de Johnny Alf (1929/2010), cantor, professor de piano e um compositor muito acima da média, expoente máximo da Bossa Nova. Homem muito discreto, faleceu aos oitenta anos em um asilo em São Paulo.
O seu legado artístico-musical irá soprar sobre nós com o frescor de uma brisa marítima. Alusão a "Eu e a Brisa", uma perfeição, Obra de Mestre.
Escolhi "Ilusão à toa" por uma questão de afinidade pessoal. Será interpretada aqui em dueto com a exuberante intérprete, Fafá de Belém.
Sintam-na com toda a alma e o coração!

"A conduzir o nosso amor discreto..."

sexta-feira, 5 de março de 2010

Monólogo com a minha cidade...

Essa é a minha cidade,

Aquela que penso conhecê-la como a palma da minha mão.Viu-me crescer e, pouco a pouco, acabou se transformando em algo que não mais reconheço e não mais me reconheço nela. Ruas, viadutos, prédios altos, concreto pesado sepultando o verde. Restou um único florista onde se compravam as mais atraentes rosas-chá. Ficou ainda a lojinha de tecidos finos bem espremidinha. Ali, na avenida principal. Quem compraria tecidos finos, hoje? Os jeans invadiram a área. Adeus às sedas, brocados e linhos, adeus...
Falo e não posso me esquecer de citar as calçadas cheias em dias de pagamentos mensais e uma massa de gente apressada que não nos cumprimenta, nem deveria, antes se lança sobre nós num pugilismo suado, sem charme, sem perfume e, muito menos, sem poesia. Ninguém meteria poesia nessa encrenca de camelôs, travestis, garotas de programas e uns tantos aposentados, mesmo a todos amando, busco pela gentileza que se foi.
Choveu demais, o bueiro entupiu e sobras de tudo vagueiam feito navios fantasmas no sujo mar. Mar da minha cidade que nunca o terá.
Restou a praça que, um dia, disseram que ao povo pertencia. Entulham-se os carros da classe média - afundada em dívidas - pelas calçadas, vistosos, brilhantes, entulhos de lata. Avisto alguns arbustos que, sem dúvida, serão destroçados pela companhia elétrica por ameaçarem eletro-domésticos comprados a prestações e mais úteis que o oxigênio que ainda é gratuito.
Conte para mim, minha perdida cidade no recôndito da minha mente mediúnica o quanto juntas sofremos, no passado e no presente, o futuro não virá, eu sei. Faremos esse acordo tácito e lhe mostrarei as cicatrizes dos tombos e escorregões nas cascas de bananas no meio do caminho que trilhamos. Como doeu e ninguém notou, ninguém chorou, nem por mim, nem por você. Pois é, eu sei que você vai me ouvir, só você...

As Vitrines...


Canta, Chico!

Nossa Homenagem ao Dia Internacional da Mulher - presente do amigo Edu .Obra do genial Edgar Degas que gostava de valorizar a mulher no seu dia a dia. Obrigada, meu gentil amigo!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sempre - Vivas

Periodicamente, os campos coloridos de sempre-vivas são tomados por grupos de crianças que, com suas pequenas mãos, vão colhendo-as, uma a uma. Poderia ser um um quadro bonito e harmonioso caso não se tratasse de um velho fenônemo chamado evasão escolar. Crianças abandonam suas escolinhas e complementam "a renda familiar" na busca frenética por essas delicadas florzinhas. Seus pais, assim como os filhos, são os chamados bóias-frias. Trabalham pelos campos por um breve tempo e recebem seus salários. Depois, deitam-se no chão de barriga pra cima e vazia, apenas para sonhar...
É verdade,por incrível que pareça, eles também sonham. Sonham com bobagens, tipo comida, tipo amor, tipo educação, tipo saúde, inutilidades.
Portanto, ao fazermos nossos elegantes arranjos florais é bom termos em mente que ali há gotas secas do sangue de algum pequenino descuidado. Essas gotas darão, com certeza, um certo toque exótico que faltava. Vai ficar lindo, experimente.
Falei em trabalho escravo infantil? Claro que não!
Eles recebem seu naco e são enterrados em covas incógnitas, por aí...
No "Rancho da Goiabada", Aldir Blanc e João Bosco contam melhor essa história. Hoje é a eterna Elis quem vai cantar. Vamos nessa?

Recomendação:

Leiam o Estatuto da Criança e do Adolescente onde o trabalho infantil está expressamente proibido. Cumpramos, pelo menos, a Lei, já que a sensibilidade se encontra em franca extinção.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Louco de Pedra

Nada mais, nada menos que um farrapo humano, um louco de pedra. Cantava e sorria e o mar lhe obedecia a cada nota e agudos. Os penhascos banhavam-se de espuma branca e a brisa marítima intercalava seus silvos aos cantares de ambos, o louco e o mar.
Ele precisava mostrar ao mundo que já tivera muitos amores e mulheres. Mulheres assanhadas, atrevidas, confusas, donzelas, meretrizes...
Onde estaria a loucura desse pobre cantor?
Nas pedras? No mar? Quero crer que em todos aqueles que o lançaram, por uma vida inteira, numa masmorra fétida de um hospício.
Assim são as coisas e como diria Sartre:
"Loucos são os outros!"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pimenta no Haiti dos outros é refresco!

Não sei se foi delírio pelo febrão que tive nessa última virose, ou se li mesmo a notícia mais virulenta e cruel do que a gripe que tive:
" ONU LANÇA GÁS LACRIMOGÊNEO E SPRAY DE PIMENTA EM HAITIANOS" (Manchete no Yahoo)

Numa hipótese ou noutra, creio que tudo pode ser possível nesse insensato mundo e, se tivesse saco, poderia deitar falação sobre a hipocrisia histórica desse órgão inoperante, omisso e assassino que se chama Organização das Nações Unidas. Estudei esse troço, meus amiguinhos, não falo de orelhada. Assisti filmes tenebrosos sobre a sua omissão criminosa em Ruanda de onde eles se retiraram e abandonaram à própria sorte duas tribos inimigas (Hutus e Totsis) se dilacerando a golpes de facões, guerra tribal e fratricida que poderia ser evitada se os tais países membros, num simples telefonema, assim o permitissem. Não permitiram, ordenaram a retirada SÓ DOS BRANCOS.
Ontem tava lá: mãos negras, rostos desfigurados pela fome e a fumaça das bombas comendo soltas nas caras deles e nas nossas também. Ah! Mas eu estou aqui no meu conforto, nada pode me atingir...é assim que pensamos, fala a verdade! Eles são miseráveis negros, sem nada a perder e com um bando de milicianos lhes arrancando as tripas e lhes devorando as parcas carnes num brutal canibalismo a céu aberto. Sabem o que comem as crianças quando berram de fome por lá?
BISCOITOS DE BARRO COM AÇÚCAR. E ainda tem açúcar! Que bom, né?
Por que não falo só de amor e trepação? Porque sou uma tola. Porque ainda sonho ou sonhava com um mundinho um pouco menos injusto. Mas, "eles", os donos do poder, nunca vão nos permitir tal deleite enquanto não sugarem a última gotícula de todo o sangue desse planeta, inclusive o seu. Sim, o seu, de você que tem um belo plano de saúde e uma boa aposentadoria...
Quem sabe, quem sabe, eu ainda possa me recuperar dessa febre e esquecer também daquela bomba atômica que destruiu o Japão? Mas "eles" reconstruíram o país com o tal Plano Marshal, tão bonzinhos!
Mas esses negrinhos do Caribe, praticantes do vodu (mentira, a maioria é de católicos e protestantes), remanescentes de Papa e Baby Doc e encabeçados pelos temíveis tontons macoutes, só merecem mesmo é pimenta no rabo e como já dizia o ditado, "pimenta nos olhos dos outros é refresco."
Sei que acabei de cometer "um suicído blogosférico", pois meus numerozinhos vão cair e não terei o velho sábio grego, Pitágoras, para me salvar, snif, snif, snif...um dia, chego aos 100 mil e os carregarei todos no caixão.Deve haver um jeitinho brasileiro de levá-los.
Vamos lá, Ney Matogrosso! Rosa de Hiroshima, uma composição de doer a alma - para quem tem uma. Autor? O nosso Eterno Poetinha, Vinícius de Moraes, filho dileto de Xangô.
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AVISO AOS NAVEGANTES:
NÃO QUERO
NÃO PRECISO
ABOMINO
QUALQUER INSINUAÇÃO
DE QUE ESTEJA
QUERENDO ME PROMOVER
ÀS CUSTAS
DAS DESGRAÇAS DOS HAITIANOS.
PORTANTO, NÃO JOGUEM INDIRETAS POR AÍ!
SEJAM MACHOS (AS) E VENHAM ME DESACATAR AQUI!
A TRIBUNA É ABERTA, VAMOS DISCORDAR.
PORÉM, FUNDAMENTANDO TUDO.
TAMOS CONVERSADOS?
QUEM VAI SER O PRIMEIRO DA LISTA???

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Zilda Partiu Para Porto Príncipe

Isso não me sai da cabeça. Tudo seria bem diferente se, digamos, você estivesse no meu lugar. Se fosse o inverso e eu no seu. Queria explicar-me , mas todos já demonstraram de muitos modos e jeitos. Todos, sem nenhuma eficácia.
Artistas, poetas, lavadeiras, crianças, gurus, haitianos, zumbis famintos de sangue.
Tudo poderia ser diferente se Zilda não tivesse ido, definitivamente, para Porto Príncipe. De qualquer forma, isso não faz nenhuma diferença já que o Haiti também é aqui, é aí, e ai de ti que não quer entender nada. Vai se arrepender por sua covardia, mas arrependa-se bem longe de mim...
Leve a rosa que lhe ofereci, Doutora Zilda!
Seus meninos (e eu) vamos chorar por ti, aqui e no Haiti.
Zilda Arns era irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, um dos mais árduos combatentes pelos Direitos Humanos nos tais "anos de chumbo". Aquele sotaque do sul carregado de mensagens de amor e coragem, muita coragem, pois a vida, naqueles tempos, era algo abaixo do insignificante. Significaria mais, hoje?
O Brasil e o mundo estão ficando cada vez mais miseráveis de valores Ético-Humanos, mas que diferença isso faz???

Gilberto Gil canta "Não Chore Mais"...
Impossível não chorar, Gil...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Bom Tirano

O Antropólogo Carlos Castañeda (quem nunca ouviu falar nele?) nas suas pesquisas de campo acabou se deparando com uma experiência que mudaria definitivamente o rumo de sua vida. Ao invés de ensinar aos "selvagens" aprendeu com os mesmos, nos passando, através de suas inúmeras e significativas obras, ensinamentos e vivências riquíssimas em conteúdo filósofico, humanístico, espiritual, tudo, enfim.
O velho índio Dom Juan, ao vê-lo agastado, chateado com as injustiças da vida, apenas o repreendeu assim:
"- Certa vez fui ser empregado na casa de uma senhora da nossa mais alta sociedade. Ela tratava-me como um escravo, a pior das criaturas. Mas eu a obedecia sempre, sem uma palavra ríspida sequer. Ao sair do emprego ainda lhe agradeci pelo que me fizera passar."
Castañeda estranhou o posicionamento passivo do Mestre, mas ele prosseguiu:
"- Meu filho, ela foi para mim uma "boa tirana" e ensinou-me como não se deve tratar o próximo. Não fora isso, como eu aprenderia o que é o Bem?"
Amigos, cito esses trechos de memória, e talvez não tenham sido exatamente com essas palavras, mas o que importa é a essência do aprendizado pelos quais passamos nessa vida de inúmeras provas.
Deparo-me a cada dia com tiranos de todos os naipes. É lógico que reluto em aceitá-los, mas aprendamos o mal para exaltarmos O BEM. O mal, dificilmente, será extirpado dessa terra, mas a semente do BEM estará sendo lançada aqui e acolá.
Um dia, aguardemos, ela brotará e nos dará sombra e doces frutos. Não iremos desistir, jamais!
Não sou dada a ficar me lamentando por problemas de cunho pessoal, mas hoje um acontecimento abalou demais minha família. Minha sobrinha teve que ser submetida, às pressas, a uma cirurgia e está no CTI. Felizmente, já se recupera bem, mas inspira cuidados. Vai superar, é uma criança amada por nós e por Deus, aliás, como todas as crianças e seres bons e inocentes.
A música de hoje não poderia deixar ser outra além de "Foi Deus" com a saudosa Amália Rodrigues.