segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Coelhos e Canteiros - O Mestre

A passeata transcorreu a contento. Algumas falas foram proferidas por pessoas que conheciam e sabiam transmitir com segurança os temas ali tratados. Porém, observando atentamente os oradores, Mark reconheceu seu ex professor de filosofia. Qual seria mesmo o seu nome? Não se lembrava mais, pois na faculdade todos só se dirigiam a ele como "mestre" pra lá, "mestre" pra cá, e assim ele formou-se sem saber o nome do professor mais interessante e querido que já tivera.
Agora, já encerrada a envolvente manifestação,  muitos sentavam-se no gramado da praça e apenas  conversavam informalmente.
- Mark, você ainda se lembra de mim? Pergunta-lhe de surpresa o velho mestre que fez questão de sentar-se ao seu lado.
- Sim, claro, professor!
E a conversa fácil, mas inteligente, foi num crescendo até que girou em torno da questão da ética no relacionamento humano. O ex aluno procurava não interromper o bom mestre que demonstrava seu temor quanto ao lado sombrio do homem atual, e que temia que certas atitudes ruins e agressivas, arrastassem a todos de volta à barbárie, resultando isso numa frieza cruel e falta de compaixão pelo semelhante. Foi aí que Mark e Gertrude notaram o semblante triste e abatido do velho homem.
- Mas ainda há esperança de reverter essa dura tendência do coração humano? Quis saber Mark.
- Talvez, meu filho, mas temos que nos mobilizar com cautela, mas com segurança e muito mais frequência, tendo em vista que a acomodação e o silêncio são sinais de indiferença, e você sabe: "quem cala, consente". E tem mais, seremos duramente cobrados pelas novas gerações pela nossa omissão.
De repente, todos perceberam que a filha do casal se agitava com a fuga repentina de Castanho, o coelho. Dessa vez, o professor esboçou um sorriso amigo e disse-lhe com afabilidade:
- Castanho precisa de liberdade para evoluir, os animais têm seus direitos e também buscam o seu próprio caminho de auto-conhecimento. Mas fique certa, Anabela, ele nunca vai esquecer os seus cuidados e carinho. Deixe que ele siga!
A menina, embora já apegada ao animalzinho, entendeu a explicação de sabedoria daquele senhor e, finalmente, acalmou-se.
- Meus amigos, foi bom tê-los encontrado e faço-lhes aqui um convite para que me visitem em breve.
- Mas onde o senhor está morando, professor? Questionou Mark com uma pontinha de medo de perder o contato com aquele que lhe abrira as portas de um conhecimento que ia além do rígido academicismo dos bancos escolares.
- Não se preocupe com endereços e coisas desse tipo, meu amigo mais que aluno. Pode deixar, eu acho vocês!
E o mestre que Mark não via há tanto tempo e que, lamentavelmente, não perguntara o nome, afastou-se atravessando a rua, sumindo por entre as altas árvores enquanto a noite vinha chegando, encobrindo o dia.
A promessa de um novo reencontro fora feita, ele voltaria com respostas. Todos precisavam acreditar nisso.

Imagens retiradas do filme "Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola, uma obra cinematográfica fantástica. Fica aqui a nossa recomendação. Abraços!

17 comentários:

Daniel Costa disse...

Querida amiga Vanuza

Sempre devemos realçar o mestre muito solícito, a prezar a sua liberdade, como interpreta a dos próprios animais e plantas. Criaste um excelente personagem de uma magnífica lição.
Beijos

vendedor de ilusão disse...

Nossa, Vanuza do céu!... Ler teu texto ouvindo o mais belo dos Noturnos de Chopin é emocionante, chega arrepiar, ouvir o Noturno 2 Opus 9; você é genial... Meu coração dá saltos no peito... E que interpretação?... Quem é no piano? Depois me fala, por favor? Não consegui identificar.
Um beijão.

O Sibarita disse...

Ei moça! kkkkkkk Ainda bem qoe o Mark é um bom aluno soube ouvir o seu mestre e ao mesmo tempo sentir a tristeza do velho professor pelas mudanças nada boa e sempre para pior da humanidade!

Mais um texto brilhante da moça das Alagoas! kkkkkkkkkkkkkkkkk

O Sibarita

cirandeira disse...

Mestre e aluno podem ser duas facetas de uma mesma pessoa. Aluno e professor aprendem juntos, não é, amiga? Bom mestre mesmo é aquele que sabe deixar o caminho livre para que seus "alunos" saibam escolher por si mesmos. Foi isso que consegui apreender do teu texto!

Um beijão, querida

Manuel Luis disse...

Excelente, voltarei a reler amanhã!
Bj

AdolfO ReltiH disse...

MUY REFLEXIVO TU POST. GRACIAS POR COMPARTIR.
ABRAZOS

O Árabe disse...

Sim, Vanuza; todos precisamos acreditar num mestre, que traga as respostas para as nossas perguntas! Belo post, boa semana!

O Sibarita disse...

E o restante do conto? kkkkk

O Sibarita

Graça Pereira disse...

Eu precisava de encontrar um Mestre assim que me tirasse tantas dúvidas sobre a loucura que este mundo vive, de uns contra outros, atingindo não só a vida de todos mas também, a dignidade, a liberdade, o direito de viver em democracia plena... Receio que esta explosão ainda termine numa guerra mundial.
Será que o Mark pode saber a opinião do Mestre sobre esta minha ideia?
Mil beijos e bom fds
Graça

vendedor de ilusão disse...

Olá, Vanuza!
Andas meio parada por aqui, né? Bem, de qualquer forma, independente de acostumado às tuas belas postagens e da saudade que sinto, te deixo meu abraço com os votos de um ótimo final de semana.
Beijos mil...

Olhos Doces disse...

Amiga querida; após um tempo sem querer saber do blog, decidi colocar alguma coisa. Não estava visitando os amigos, mas foram coisas minhas mesmo. Sem tempo.
Adorei sua postagem! Creio, que seja bem assim; a postura inerte diante de algumas questões, deixa a impressão que estamos satisfeitos, quando na verdade não.
Amei também a musica!
Como você está? Notei também seu sumiço no face.
Que sua semana seja de realizações e muita saúde!
Um beijo meu e do seu netinho, que já está enorme.

Lúcia Laborda disse...

Amiga Vanuza; enfim decidi colocar alguma coisa no blog. Estive tentando resolver algumas coisas dentro de mim, mas é complicado demais!
Amei seu post! Assim como no conto, é a vida. Um povo que aceita tudo calado, é como se concordasse, ou desse o aval a tudo.
Adorei também a musica!
E esse carnaval, vai ficar por aí mesmo?
Beijos meus e do seu netinho.
Uma semana maravilhosa! Beijos

vendedor de ilusão disse...

Olá, Vanuza!
Estás, diria, meio parada, o que houve?

O Sibarita disse...

Ei dona mocinha! kkkk

Abandonou o blog foi? Não faça isso! kkkkkk

E o carnaval Eu estou na avenida o coro come aqui em Salvador!

Se me chamar eu vooooo.... kkkk
kkkkkkkkkkkkk

O sibarita novamente! kkk

O Sibarita disse...

Ei e como está ou foi de carnaval? kkkkkk Aqui não foi brincadeira não! kkk

Faltou vc viu? kkkk E aliás, como está a senhora? Hummm...


O Sibarita

Benno disse...

Um belo conto tem que passar por uma bela lição de vida!
Beijo

Graça Pereira disse...

Julgo que o caminho agora escolhido está a colher aplausos....é preciso não parar.
beijo
Graça