domingo, 13 de abril de 2008

MULHER LOBA





GÊNERO: TERROR

MULHER LOBA
Família numerosa: pai, mãe e sete filhos. Cidadezinha do interior. Todos muito religiosos e Isabel, a matriarca, sempre absorvida nos assuntos paroquiais, uma beata, aquela senhora.
O casarão da família Pontes era frequentemente visitado pelos padres e freis de todas as localidades próximas que, chegando ali, eram acolhidos com todas as honrarias e uma farta mesa, na qual eles se serviam à vontade.
Numa determinada época, a população local se mobilizou de uma forma inigualável, estava para chegar o Frei mais famoso de todo o Nordeste, era Frei Sebastião.
Ocorre que, apesar da aparente paz que parecia reinar na família Pontes, havia entre aqueles sete filhos, dois (Ariosto e Alexandre) que se mostravam a cada dia mais rebeldes com os religiosos que por ali pousavam, aquela rebeldia, apesar de sufocada pelo casal, já fugira ao controle dos mesmos. Bem, chegou, enfim, o grande dia de Frei Sebastião, homem-santo, ir visitar e hospedar-se na residência da família. Isabel, no almoço, mais do que nunca, incitou os empregados da família a se desdobrarem nos trabalhos culinários e a lauta refeição foi servida. Todos se regozijaram à mesa, com exceção dos dois rebeldes, Ariosto e Alexandre, que, pelo contrário, iniciaram ali, uma série de ofensas verbais aos cinco freis presentes, entre eles o "SANTO" Sebastião. Diziam impropérios do tipo: - comam, seus famintos! ou, matem a fome, seus abusados! num determinado momento, Frei Sebastião levantou-se e sentenciou:- fiquem certos, meus filhos, nunca mais abusaremos da hospitalidade dessa família, mas, aviso-lhes que uma surpresa está para acontecer-lhes, em breve! e levantaram-se todos. Os freis partiram dali para outra cidade.
Poucas semanas depois do acontecimento, Isabel adoeceu, foi tratada com o diagnóstico de estafa, mas, foi sumindo, emagrecendo a olhos vistos, olhos encovados, já não rezava mais o terço, caiu de cama. Faleceu dormindo.
A cidade entrou em estado de choque; foram todos ao concorrido enterro, de negro, flores e velas nas mãos, choravam abertamente nas ruas, inconformados. O viúvo, Arcanjo, fora amparado várias vezes pelos filhos. Isabel desceu à cova com um rosto tranquilo, parecia adormecida.
Passou-se uma semana e Seu Zinho, o coveiro chegou certa manhã à casa da família enlutada e deu a seguinte notícia:- oia, gente, a tumba da dona Isabé, tá rachada! e tem mais, tem uma coisa lá berrando a madrugada toda...Arcanjo saiu rápido para procurar o pároco e com ele teve uma conversa muito reservada.
Já passava da zero hora, um helicóptero baixou, ali mesmo, num terreno próximo ao cemitério. Homens de negro desceram do mesmo, carregando embrulhos enormes, quando chegaram próximos ao túmulo da falecida, já estavam lá dois coveiros e Arcanjo. A um sinal do que parecia ser o chefe, os trabalhadores da morte iniciaram, a golpes de picaretas, a destruição do cimento rachado. À certa altura, cânticos, ladainhas foram entoadas e daquele rombo feito na cova saiu "um ser" de quatro patas, pelos pelo corpo, dentes à mostra, mas, uma jaula já havia sido montada na saída do túmulo e pedaços de carne crua, sanguinolentas estavam ali, expostas."O SER" devorava tudo avidamente e não ofereceu resistência aos seus visitantes. A jaula foi carregada até o helicóptero e dali partiu não se sabe para onde, há boatos que foi levado ao estrangeiro, quem sabe?
Manhã de domingo na Igreja, na primeira fila, Ariosto e Alexandre com os olhos enjetados e vermelhos, rezam contritamente.
Isabel, a Protetora, Beata e Penitente, agora tornara-se uma LOBA, um animal que ressurgira do além para provar que o Santo Frei Sebastião não costumava dizer profecias em vão...

10 comentários:

Anônimo disse...

Um conto que prende nossa atenção do começo ao fim.Que venham outros!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Realmente gostei do texto.A tensão da trama vai aos poucos adornando uma fina ironia.A capacidade de síntese sem desprezar o essencial do estilo, faz da autora do texto encontrar um caminho pessoal, porém involuntário.O fantástico passa a fundamentar-se no absurdo das convenções sociais e a "loba", passa despercebida entre as "pérolas" de uma sociedade que parece encontrar no limiar entre a razão ou do fanatismo retrógrado.Não será absurdo os fundamentos da nossa consciência social?Parabéns querida escritora!

Anônimo disse...

Querida, fico muito feliz por vc. De verdade, eu penso que seria uma catástrofe não termos acesso aos seus magníficos textos. Ainda bem que vc tem o Blog, que bom. Vou linkar para mim e virei aqui lhe visitar. Eu tb tenho um Blogspot - Páginas de Poesia - mas está tão abandonadinho, por falfa de tempo!
Prometo atualizá-lo, pois assim, seremos colegas de Blog e poderemos nos visitar, sempre.
Deixo-lhe um beijo carinhoso.
Milla
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Zilda Santiago disse...

Que horror na madrugada com esta loba... ...MUITO BOM GAROTA.BEIJÃO.
NÃO SEI COMO APARECE PRA VOCÊ,MAS DIDA SOU EUZINHA,ZILDINHA..BEIJÃO!!VOLTAREI ACORDADA...RSRSRSRSÃO 3:50

Anônimo disse...

" O HOMEM É LOBO DO HOMEM."

Cinéfilo disse...

Há fenômenos que ninguém sabe explicar.

~~ reciclando ~~ disse...

Nossa! Me senti lá na fazenda, será que essas coisas acontecem mesmo?que medo!

A Voz da Floresta disse...

Essas histórias são muito estranhas e têm origens que desconhecemos.

Gisele Aparecida disse...

Adoro histórias de terror, apesar do medo, rs.