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Garçonete maluquinha, Dalila não parava em emprego. Não parava até que foi bater na porta de uma casa noturna, no gueto mais "mal afamado" da cidade. Lugar maldito, bastante execrado pelas "pessoas de bem", pelas famílias de tradição moral ilibada. Mas, que diabos! A moça precisava sobreviver. O lugar tinha lá seu charme; as cores eram berrantes, mas não destoavam entre si, havia mesmo um certo bom gosto; os espelhos e brilhos pontificavam por ali, aliás muitos brilhos, daí o apelido popular de "inferninho da purpurina". Seus proprietários e sócios, Renné e Pierre eram de origem européia, já aclimatados no Brasil. Eram dez horas da manhã e lá estavam à espera da pessoa que lhes telefonara no dia anterior se anunciando para a entrevista. Renné, ao contrário de Pierre, demonstrava mais uma natureza descontraída, porém não era do tipo fútil. Sua linguagem se mostrava determinada, não se preocupava muito em escolher as palavras, não chegava a ser agressivo, apenas falava sem pensar. Seu aspecto físico daria um capítulo à parte: olhos claros, cílios espessos e vasta cabeleira até os ombros, era extravagante, sim, mas não era feio, exuberantemente belo, havia quem gostasse! Pierre, completamente o oposto do amigo em todos os sentidos. Aparentava mais maturidade que o primeiro, embora fosse um pouco mais jovem. Cabelos naturalmente claros, curtos, aparência mais elegante e roupas de estilo clássico. Seu temperamento era reservado, observador, arguto, conhecia muito bem os meandros da difícil natureza humana. Fora psicólogo, entretanto, as Artes Plásticas o haviam transviado do caminho que traçara sua tradicional família. Bem, caro leitor, feitas as devidas descrições de praxe, voltemos àquela manhã de verão quando Renné e Pierre resolveram contratar aquela menina. Manhã de ressaca, cansaço, daí um certo desinteresse por aquela adolescente magricela, porém dona de um sorriso contagiante. Sorriso esse que não surtira o mínimo efeito no âmago dos notívagos futuros patrões; esgotados por suas noitadas. De tão motivada que estava, ela mal prestava atenção nas explicações e detalhes do seu novo emprego. Encerrada a rápida entrevista, Dalila, simplesmente, pegou da vassoura, balde e espanador saindo a limpar tudo que encontrava pela frente e o fazia com energia e muita disposição. Nunca vira um ambiente como aquele e tudo ali lhe trazia deslumbramento, principalmente os quadros e painéis das paredes em locais estratégicos.A maior parte deles sugeriam carícias entre casais de ambos os sexos, homossexuais, enfim. Nada naqueles quadros indicava pecado ou culpa, eram deuses do Olimpo se amando, eram ninfas nos bosques se tocando, nuas."- Os seres humanos são muito estranhos", pensou Dalila, espanando também esse pensamento. Afinal, não estava ali para formar opiniões sobre o que quer que fosse.E lá se foi, cantarolando velhas canções que a mãe lhe ensinara, cuidando das esculturas sensuais, esfregando os mármores, varrendo o chão, encerando... O dia transcorrera normal; pessoas entrando e saindo do bar, absorvidos em beber e conversar, sendo que, à medida em que a luz do sol refluía, lentamente, o luar, a noite, ia trazendo mudanças, tais como as estranhas luzes surgidas do interior de refletores escondidos: luzes fortes que se cruzavam, ora vermelhas ,amarelas, violetas... transformações maiores se davam no comportamento da clientela da Boate " PINK FOREVER ". Casais que ali adentravam começavam a assumir outros comportamentos; homens musculosos com tatuagens pelo corpo juntavam-se em grupos e , por vezes, se acariciavam, trocavam beijos na boca, alguns sentavam-se nas pernas uns dos outros.

Obs.: Esse conto não foi feito para agredir ninguém, pois a meu ver, quem está seguro de si, nada tem a temer. Não há porque ignorarmos o homossexualismo, tanto masculino como feminino, pois através da História tivemos exemplos de vida de pessoas que nos deixaram seus legados culturais a despeito de suas opções sexuais. Querem alguns exemplos? SANTOS DUMONT / OSCAR WILDE / VIRGÍNIA WOOLF/FERNANDO PESSOA...a lista é imensa, todos sabemos e ainda temos os Filósofos Gregos e os imperadores romanos. Alerto também que muitos jovens, na atualidade, chegam ao suicídio mais pela força do preconceito do que pela sua forma de viver, errada ou não, não nos cabe julgar.
SELINHOS:



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