JOÃO E A PEDRA
Falar de João Cabral é "chover no molhado". Desde muito cedo, admiro a sua OBRA que dizem ser "seca", sem frescuras poéticas. Mas, é assim mesmo que a gente admira esse pernambucano de uma timidez intransponível, mas dotado de uma CONSCIÊNCIA SOCIAL extraordinária do nosso tempo. Citam e cantam sua "MORTE E VIDA SEVERINA", porém foi a "EDUCAÇÃO PELA PEDRA" que nunca saiu da minha cabeça. Quando estudei Direito tive um professor de Penal que havia sido seu secretário e com ele viajou pela Espanha e, frequentemente, o relembrava como uma das figuras mais simples e educadas que já conhecera, tão diferente dos falsos poetas e intelectuais que hoje chafurdam por aí em busca do sucesso efêmero e falso.

A Educação pela Pedra (João Cabral de Melo Neto)
Uma educação pela pedra: por lições;Para aprender da pedra, freqüentá-la;Captar sua voz inenfática, impessoal(pela de dicção ela começa as aulas).A lição de moral, sua resistência friaAo que flui e a fluir, a ser maleada;A de poética, sua carnadura concreta;A de economia, seu adensar-se compacta: Lições da pedra (de fora para dentro, Cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão(de dentro para fora, e pré-didática).No Sertão a pedra não sabe lecionar,E se lecionasse, não ensinaria nada;Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,Uma pedra de nascença, entranha a alma.